No PI, baianos denunciam exploração de mão de obra escrava

16/04/2015 09h59


Fonte G1 PI

Imagem: Fernando Brito/G1Sem conhecidos em Teresina, Pedro da Gama e José Carlos dormem na rua.(Imagem:Fernando Brito/G1)Sem conhecidos em Teresina, Pedro da Gama e José Carlos dormem na rua.

Os baianos José Carlos Evangelista, de 48 anos, e Pedro da Gama Lima, de 29, procuraram a Superitendência Regional do Ministério do Trabalho em Teresina para denunciar uma empresa com sede no Pará por exploração de mão de obra escrava. Os dois homens chegaram na capital piauiense no domingo (12) após trabalharem por 20 dias em uma lavoura colhendo laranjas na cidade de Capitão Poço (PA).

A denúncia, segundo o órgão, foi encaminhada para o Ministério do Trabalho no Pará, onde as providências devem ser tomadas.

Imagem: Fernando Brito/G1Clique para ampliar'Fomos enganados, tratados como animais', disse José Carlos.(Imagem: Fernando Brito/G1)'Fomos enganados, tratados como animais', disse José Carlos.

Com apenas R$ 50 no bolso, os dois esperam por uma ajuda para voltar ao estado da Bahia. A entidade filantrópica Pastoral da Terra informou que dará apoio aos dois baianos, com abrigo e disse que vai providenciar o retorno dos trabalhadores para o estado de origem.

O senhor José Carlos, morador do município de Lençóis, a 450 km de Salvador, disse que saiu da sua terra natal a procura de emprego no município de Luís Eduardo Magalhães, onde conheceu o jovem Pedro da Gama.

Os dois foram abordados por dois homens da empreiteira, oferecendo trabalho no estado do Pará com diária em torno de R$ 135.

"Eles nos ofereceram boas condições de trabalho e um bom salário pagando em diárias, mas chegando lá, a situação era totalmente diferente. Recebíamos apenas R$ 20 trabalhando dia, noite, em horários de chuva e sem nenhuma proteção. Podia estar doente ou o que fosse. Tudo nós tínhamos que pagar. Vivíamos em um barracão em condições que nem animal poderia viver",
contou José Carlos.

Já o jovem Pedro da Gama, morador de Botirama, na Bahia, deixou os 12 irmãos em busca de um trabalho. Ele relatou os momentos de exploração e discriminação por parte da empresa. Segundo ele, mais de 30 pessoas de diferentes estados também viviam nas mesmas condições.

"A gente chegou lá e até o dinheiro nós pagamos com o nosso suor. Se ficássemos cansados ou reclamasse eles diziam que lá era 'falar pouco, e ouvir muito'. Diziam também que lá não era a Bahia e que nós estávamos era no Pará, e a única coisa que nós devíamos fazer era trabalhar",
disse cabisbaixo lembrando do caso de um idoso de 60 anos, que trabalhava no local doente, sem forças e ainda o faltavam com respeito.

Imagem: Fernando Brito/G1Clique para ampliar'Deixei meus 12 irmãos para trabalhar. Sou um cidadão', disse Pedro.(Imagem:Fernando Brito/G1)'Deixei meus 12 irmãos para trabalhar. Sou um cidadão', disse Pedro.

José Carlos e Pedro Gama saíram da Bahia no dia 21 de março e relaram ter passado 20 dias em trabalho escravo e subumano. Acompanhado dos dois agenciadores da empreiteira, eles contaram que foram para o Pará de ônibus e desde então, não tiveram contato com as famílias, que desconhecem o paradeiro dos dois.

"Se eu pudesse voltar atrás eu nunca teria feito isso.Tudo isso para mim é um crime. Trabalhamos sem ser registrado e fomos enganados, tratados como animais",
disse José Carlos. "Os chefes eram truculentos e nos tratavam como escravos. Eu sou é um cidadão e mereço respeito", contou Pedro da Gama.

Cansados com a vida escrava no Pará, os dois decidiram voltar para a terra de origem. De carona em um caminhão com carga de laranja, eles contaram que chegaram em Teresina na noite deste domingo (12) depois de dois dias na estrada. Eles aguardam carona para Bahia.

"Não temos previsão para voltar para a Bahia e estamos aqui em Teresina pela sorte. Disseram que sai uma carga daqui da CEAP quarta-feira (15) para a lá, mas ninguém sabe ao certo. Sem dinheiro para nada, estamos aqui dormindo na rua e se servindo da boa vontade das pessoas",
contou.

A superintendente regional de trabalho e emprego no Piauí, Paula Mazulo, informou que as investigações sobre a existência da empresa informada pelos trabalhadores junto ao Ministério do Trabalho, estará a cargo da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), em Brasília. Ela contou ainda que o caso também será investigado pelo Grupo Móvel de Fiscalização de Combate ao Trabalho de Escravo, já que a denúncia foi feita em um estado diferente ao da situação relatada.

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