Moradores pagam R$ 5 por frete de água em Cocal

03/10/2013 10h58


Fonte G1 PI

Os meteorologistas preveem o aumento de temperatura em todas as regiões do Piauí neste mês de outubro. A notícia não agrada aos habitantes de pelo menos quatro comunidades da Zona Rural da cidade de Cocal, Norte do Piauí, que há um ano precisam percorrer longas distâncias para conseguir água. Quem não tem condições físicas de fazer o trajeto se vê obrigado a pagar de R$ 3 a R$ 5 a um vizinho para que ele traga um galão com 15 litros de água.

Imagem: Gilcilene Araújo/G1Dona de casa reside ao lado de uma caixa d´água que está vazia.(Imagem:Gilcilene Araújo/G1)Dona de casa reside ao lado de uma caixa d´água que está vazia.

Maria dos Navegantes, 28 anos, mora no povoado Itapecuru e há um ano paga R$ 5 por 15 litros de água. Isso porque o poço que abastecia 80 famílias que moram no povoado secou. Segundo ela, o pagamento acontece porque os 120 litros de água, oferecidos pela Prefeitura e transportados em carro-pipa , não são suficientes.

“Também me vejo forçada a pagar quando o carro-pipa não vem. Às vezes o veículo quebra e ficamos sem água. Além disso, o abastecimento acontece somente três vezes por semana. Eu tenho duas filhas e com crianças em casa não dá para ficar um dia sem água, por isso sou obrigada a pagar para o vizinho R$ 5 por um depósito de 15 litros”, afirma Maria dos Navegantes.

Imagem: Gilcilene Araújo/G1Clique para ampliarJuscelino Alves cobra para transportar galões de água.(Imagem:Gilcilene Araújo/G1)Juscelino Alves cobra para transportar galões de água.

O pagamento é feito para alguns proprietários de caminhonetes que utilizam o transporte para carregar galões de água. Juscelino Alves de Carvalho é um dos donos de caminhonetes que cobram pelo frete. Em entrevista ao G1, ele explica que a cobrança serve para custear as despesas com a viagem.

“Nós vivemos sem água há muito tempo. Há três meses uns moradores me pediram para pegar água no poço de Santo Hilário, mas como eu não tinha o dinheiro para abastecer recebi uma quantia e fui pegar a água. Eu não lucro à custa da desgraça dos outros, até porque vou buscar água só duas vezes por semana. Quando a pessoa não pode pagar, eu levo o galão dela assim mesmo. O dinheiro que ganho é todo investido em gasolina e em peças para o carro”, disse o motorista.

Sem condições financeiras para pagar pelo frete, Pedro de Araujo de Sousa, 76 anos, há nove meses comprou um burro e uma carroça para transportar os 140 litros de água que tira de um poço localizado na comunidade vizinha. O aposentado reside na comunidade Baixa do Camará e consegue água no povoado Santo Hilário, distante 5 km de sua residência.

Duas vezes por semana ele faz o trajeto que dura aproximadamente uma hora e trinta minutos. Nem mesmo o sol escaldante é motivo para que Pedro fique em casa e não cumpra a rotina. “O sol é muito quente, mas se eu ficar em casa esperando o tempo ficar mais frio eu não consigo água, porque o operador da bomba, que fica no poço, tem hora para ligar e desligar”, conta Pedro de Araújo.

Imagem: Gilcilene Araújo/G1Aposentado percorre em uma carroça 10 km em busca de água.(Imagem:Gilcilene Araújo/G1)Aposentado percorre em uma carroça 10 km em busca de água.

O líquido é usado no consumo diário do aposentado e da esposa. Também bebem da mesma água os poucos animais que conseguiram resistir à seca. “Eu tinha 10 cabeças de gado, mas deixei de criar porque as despesas são muito grandes, além disso, eles não resistem no período de estiagem. E assim que os primeiros animais começaram a morrer, resolvi vender e fiquei apenas com uma vaca por causa do leite, porém a fabricação dela é pouca. Hoje minha criação de animais se resume aos porcos, galinhas e um burro”, lamenta Pedro.

A plantação de milho, feijão, melancia e abóbora não prosperou e, ainda de acordo com o aposentado, os R$ 300 investidos em sementes foram jogados fora. Pedro explica que por não ter condições de pagar pelos galões de água é obrigado a fazer o percurso duas vezes ao dia.

Imagem: Gilcilene Araújo/G1População se reúne para pegar água em caixa d´água na cidade de Cocal.(Imagem:Gilcilene Araújo/G1)População se reúne para pegar água em caixa d´água na cidade de Cocal.

A situação de Raimundo Nonato de Assis, 36 anos, não é muito diferente do aposentado Pedro de Araújo. Raimundo é lavrador e nos momentos de folga ocupa o tempo pegando água em cima de uma bicicleta. Ele mora no povoado Santo Hilário, abastecido por duas caixas d´água de 15 mil litros, mas como não tem encanação, não recebe água na torneira de casa e tem que percorrer 300 metros em uma bicicleta com um galão de 30 kg.

“Tenho dois filhos que necessitam de água para beber e tomar banho. Minha esposa também precisa lavar roupas e louças, ou seja, para executar a maioria das atividades domésticas é necessário água. Não dá para viver sem esse líquido e, como ela não tem condições de vir até a caixa d'água, tenho que fazer esse percurso quando não estou trabalhando”,
explica o lavrador.

Dona Maria Marques de Araújo reside a 20 metros da caixa d´água, no entanto, a dona de casa precisa colocar um balde com 15 litros de água na cabeça para as tarefas domésticas.

“Eu não tenho encanação em casa, por isso carrego água na cabeça. O peso do balde me incomoda, mas agradeço a Deus por morar perto da caixa d'água. Não quero nem pensar como seria minha vida se a distância fosse maior, porque meus filhos não podem ajudar. Meu sonho é que um dia esta situação mude”, afirmou Maria Marques.

O assessor de comunicação de Cocal, Jefse Vinute, informou que o transporte de água em carro-pipa é um paliativo. Ele disse que outras medidas serão tomadas a partir desta quinta-feira (3).

“A prefeitura da cidade vai perfurar 19 poços tubulares em um projeto que será executado em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Realizamos um estudo que identificou os locais onde não há água, logo, dentro de poucos dias resolveremos a situação da falta de abastecimento de água na Zona Rural de Cocal”, afirmou.

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Tópicos: carro pipa, poço, povoado