Estudantes vítimas de assédio e importunação sexual relatam traumas: "tenho medo de pegar ônibus"

07/03/2023 09h28


Fonte G1 PI

Imagem: Rede ClubeCampanha da Rede Clube no Piauí.(Imagem:Rede Clube)Campanha da Rede Clube no Piauí.

É comum encontrar mulheres que foram vítimas de assédio, importunação sexual, ou ambos. A Samara, aos 16 anos, foi assediada pelo chefe no trabalho. A Larissa, aos 19, foi perseguida por uma moto e levou um tapa nas partes íntimas. A Bárbara, aos 16 anos, foi assediada por um professor. A Maria Rita, aos 17, foi agarrada por um pedreiro dentro de casa.

São nomes, que apesar de anônimos, retratam a triste realidade na vida de mulheres brasileiras que costuma gerar traumas para o resto da vida. A jovem M.C.M.R, estudante de 22 anos, relatou que foi vítima de importunação sexual dentro de um ônibus coletivo.

Eram 7h, quando a jovem ia com a mãe para uma consulta médica de rotina. Ela contou que subiram as escadas do ônibus com dificuldade, por conta da lotação.

Depois de muita luta para conseguir entrar no coletivo, senti uma mão no meu bumbum. Primeiro achei que fosse a bolsa de uma mulher, mas depois senti que era um braço de um homem que estava me alisando. Senti o medo escorrendo na minha testa. Fiquei paralisada e não contei para minha mãe com receio de algum tipo de violência por parte dele. Ainda hoje tenho medo de pegar ônibus”, contou.

Mais de 52 mil casos

Dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST) apontam que, somente em 2021, foram ajuizados, na Justiça do Trabalho, mais de 52 mil casos relacionados a assédio moral e mais de três mil relativos a assédio sexual em todo o país, provando que tais violências são numerosas dentro do próprio trabalho da vítima.

A estudante L.L.P, de 25 anos, se emocionou ao lembrar de uma festa de trabalho que participou em 2022 e que, no meio da noite, foi assediada por um colega da empresa.

“Foi uma festa em um sítio. Minhas amigas estavam bêbadas, mas eu não bebi. Em determinado momento, o colega começou a me puxar e me beijar. Eu tirava as mãos dele de mim, mas ele insistia. Eu fiquei apavorada, pois o sítio era muito longe e eu só voltaria para casa quando amanhecesse. Passei o resto da noite em pânico e pelos cantos. Ainda hoje isso me perturba”,
relatou.

A jovem afirmou ainda que a maior dor é o fato de ainda conviver com o assediador. “Contei o que aconteceu para minha chefe, que foi muito solícita e me acolheu. Ele não trabalha mais no mesmo setor, mas ainda sou obrigada a ver ele quase sempre, pois o nosso meio de trabalho é o mesmo. Isso chega a dificultar muito a minha vida”, disse.

Como agir? Defensoria explica

Segundo a pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 17 milhões de mulheres relataram ter sofrido algum tipo de violência de gênero nos últimos 12 meses.

O número é ainda maior quando se trata de assédio e importunação sexual: 26,5 milhões de brasileiras relatam ter ouvido cantadas e comentários desrespeitosos nas ruas e no trabalho ou até mesmo foram agarradas, ou beijadas à força, no último ano.

A coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher em situação de violência doméstica e familiar da Defensoria Pública do Estado do Piauí, a defensora Lia Medeiros, alertou meninas e mulheres sobre esses crimes.

“É uma prática libidinosa que acontece com bastante recorrência, infelizmente. Mas é muito importante entender a diferença de assédio para importunação sexual para conseguir denunciar. De toda forma, ao menor ato, grite e denuncie. Não tenha medo, pois existe uma rede enorme de mulheres que podem ajudar”
, disse.

Importunação Sexual

A partir de setembro de 2018, com o advento da Lei 13.718, o Código Penal passou a prever a importunação sexual como crime, que ocorre quando se pratica contra alguém, e sem a sua anuência, ato libidinoso, com o objetivo de satisfazer a própria lascívia (sexualidade) ou a de terceiro.

“Exemplo desse crime é quando o agressor ejacula no corpo da vítima, apalpa suas partes íntimas ou tenta beijá-la de surpresa. Mas atenção, esse crime só estará configurado se não houver violência ou grave ameaça, pois se presentes esses fatores, poderá ter ocorrido estupro”, explicou a defensora Lia Medeiros.

Ela destacou ainda que as mulheres vítimas dessa prática não devem ter medo de gritar, mostrar o que o acusado fez e buscar identificá-lo, a fim de ajudar nas investigações.

“Procure a delegacia para fazer o boletim de ocorrência, relatando o fato com detalhes. A ofendida também pode, e seria importante, apresentar testemunhas e outros tipos de provas, como fotos e vídeos. Gritar e apontar o acusado é uma forma de fazer com que as pessoas que presenciaram a denúncia se tornem testemunhas do crime”
, afirmou.

Assédio

O assédio pode ser configurado como condutas abusivas exaradas por meio de palavras, comportamentos, atos ou escritos que podem trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa.

A defensora Lia Medeiros alertou para uma característica clássica do crime, ele é normalmente cometido por pessoas com certo grau de domínio ou acima da mulher, hierarquicamente.

“Por exemplo, pode acontecer pelo chefe, pelo tio, pai ou alguém acima da mulher, seja por cargo ou idade. Nesses casos, as denúncias podem ser feitas de forma anônima e a identificação fica mais fácil, visto que normalmente a vítima conhece o assediador”
, disse.

Locais de denúncia

A Defensoria Pública do Piauí possui quatro atendimentos especializados de Defesa da Mulher em Situação de Violência, sendo um na capital e os outros nas regionais de Parnaíba, Floriano e São Raimundo Nonato. As denúncias podem ser feitas pelos telefones disponibilizados, ou diretamente para a Polícia Militar, no 190.

Confira os telefones disponibilizados:

  • Disque Denúncia: 180
  • Guarda Maria da Penha: 153
  • Patrulha Maria da Penha: (86) 98858-1388
  • Central de Flagrante de Gênero: (86) 3216-5038
  • Secretaria de Estado das Mulheres: (86) 3216-2625
  • Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual Maternidade Dona Evangelina Rosa (Samvvis): (86) 3228-1605/ 3228-1053
  • Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres (Smpm) de Teresina: (86) 3233-3961
  • 5ª Vara – Cível e Criminal (Maria da Penha): (86) 3230-7951
  • Centro de Referência Estadual da Mulher em Situação de Violência (Francisca Trindade): (86) 99433-0809
Imagem: Arte Adelmo Paixão/g1 PI Rede de Proteção à Mulher no Piauí.(Imagem: Arte Adelmo Paixão/g1 PI) Rede de Proteção à Mulher no Piauí.

Imagem: Arte Adelmo Paixão/g1PI  Delegacias da Mulher em Teresina.(Imagem:Arte Adelmo Paixão/g1PI ) Delegacias da Mulher em Teresina.

Imagem: Arte Adelmo Paixão/ g1 PI  Delegacias da Mulher no interior do Piauí.(Imagem:Arte Adelmo Paixão/ g1 PI ) Delegacias da Mulher no interior do Piauí.

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Tópicos: casos, crime, mulher