Em crise, Agespisa gasta quase R$ 4 milhões por mês com terceirizados

27/10/2015 08h37


Fonte G1PI

No início de 2015, o governo do Piauí informou que a dívida da Agespisa ultrapassava o valor de R$ 1 bilhão e que a empresa estava "asfixiada" financeiramente. A situação da companhia responsável pelo tratamento e distribuição de água no estado tem sido alvo constante de discussões que tentam encontrar uma solução para o problema.

Mas apesar da grave crise, a empresa mantém um gasto milionário com funcionários terceirizados. O Sindicato dos Urbanitários denuncia que a maior parte dos contratos é ilegal porque fere a legislação que prevê a realização de concurso público para admissão de servidores nas entidades governamentais. A Agespisa é uma sociedade de economia mista, no entanto o estado do Piauí é o acionista majoritário.

Imagem: Gustavo Almeida/G1Empresa diz que não tem comoo abrir mão dos tercerizados.(Imagem:Gustavo Almeida/G1)Empresa diz que não tem comoo abrir mão dos tercerizados.

Procurada pela reportagem do G1, a Agespisa informou que possui 1.578 funcionários terceirizados, segundo balanço de agosto desse ano. De acordo com a empresa, o gasto mensal com os terceirizados é de R$ 3.822.253,08 (três milhões, oitocentos e vinte e dois mil, duzentos e cinquenta e três reais e oito centavos). Se calculada ao ano, a despesa com os terceirizados chega a quase R$ 46 milhões.

Relação com os nomes de alguns terceirizados de um contrato assinado no segundo semestre de 2014 obtida pelo G1 mostra que três dos servidores geravam um gasto de mais de R$ 11 mil por mês cada, sendo um deles com salário superior a R$ 12 mil. Somente com os 55 nomes da relação, o gasto anual era de R$ 3.773.953,08 (três milhões, setecentos e setenta e três mil, novecentos e cinquenta e três reais e oito centavos).

Como se não bastassem os terceirizados, a empresa mantém vários cargos em comissão exclusivos. Em setembro desse ano, uma resolução da diretoria alterou o quadro de comissionados da companhia e incluiu novos cargos.

Ao todo, os comissionados exclusivos geram um gasto de R$ 251.500,00 por mês, o que representa mais de R$ 3 milhões ao ano. No documento, a Agespisa justifica que os novos comissionados são necessários para tornar possível o funcionamento adequado da Estação de Tratamento de Água (ETA) do bairro Santa Maria da Codipi, inaugurada esse ano na Zona Norte de Teresina após atrasos no andamento da obra.

A transformação da empresa no Instituto de Águas é a saída que o governo do estado aponta para se livrar do buraco em que se afundou a companhia. O sindicato que representa os servidores da empresa é contra o projeto, e afirma que a mudança não resolve o problema e ainda pode prejudicar direitos dos trabalhadores.

De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Urbanitários, Francisco Marques, a maior parte dos terceirizados é desnecessária.

Imagem: Gustavo Almeida/G1Clique para ampliarVice-presidente do Sindicato diz que novos cargos foram criados.(Imagem:Gustavo Almeida/G1)Vice-presidente do Sindicato diz que novos cargos foram criados.
"Muitos desses terceirizados são desnecessários. Há abusos e contratos irregulares. Nós questionamos a necessidade de tantos contratos, além do que, eles ferem a Constituição Federal, também ferem o princípio da coisa pública. Existem excessos. O sindicato tem conhecimento de que, em alguns casos, as pessoas contratadas sem concurso público não prestam serviço para a Agespisa"
, disse.

Advogado afirma que contratos de terceirização são ilegais (Foto: Gustavo Almeida/G1)
Advogado afirma que contratos de terceirização
são ilegais (Foto: Gustavo Almeida/G1)

O advogado de carreira da Agespisa Antônio de Deus Neto reforça as denúncias e diz que os contratos são irregulares. Segundo ele, desde 1988 existe a obrigatoriedade da realização de concurso em órgãos públicos. Ainda de acordo com ele, a dívida não é do tamanho que o governo diz e afirma que estão querendo passar a imagem de que a Agespisa está sucateada para transformá-la em Instituto.

Imagem: Gustavo Almeida/G1Clique para ampliarAdvogado afirma que contratos de terceirização são ilegais.(Imagem:Gustavo Almeida/G1)Advogado afirma que contratos de terceirização são ilegais.
"Entre os problemas que alegam para privatizar a Agespisa está os terceirizados, mas foram eles que encheram a empresa de terceirizados através de apadrinhamento político. Lá está cheio de pessoas que não tem competência para os cargos, pessoas que recebem e são indicadas por membros desses últimos governos. Encheram de forma ilegal, burlando a lei"
, disse.

Ele defende que os contratos de terceirização sejam revisados e defende que a empresa seja administrada por funcionários de carreira na direção geral e em todas as suas diretorias.

Sobre a resolução da diretoria que fala em "inclusão de novos cargos comissionados", a diretora administrativa da Agespisa, Edileusa Francisca Silva, disse em entrevista ao G1 que não foram criados novos cargos. Segundo ela, o documento não aumentou o quadro de comissionados da empresa, mas apenas redimensionou os que já existiam.

Imagem: Gustavo Almeida/G1Clique para ampliarDiretora administrativa nega irregularidades em contratos.(Imagem:Gustavo Almeida/G1)Diretora administrativa nega irregularidades em contratos.
"Na verdade não houve um aumento dos cargos em comissão, eles foram apenas redimensionados. Já existia uma resolução anterior que previa 90 cargos. Essa é a quantidade que a empresa admite ter. Justamente devido ao momento [de crise], eles foram redimensionados, ou seja, pegamos os cargos mais altos, diminuímos eles e jogamos para os mais baixos, mas o número de 90 cargos previsto anteriormente não mudou"
, disse. Sobre o contrato cuja relação foi obtida pela reportagem, a diretora sustenta que ele não foi renovado porque a quantidade de vezes permitida para renovação já foi atingida. No entanto, admite que uma licitação para suprir a demanda desse contrato está em andamento, pois a empresa não pode abrir mão do serviço desses profissionais.

Em relação aos valores superiores a R$ 11 mil, ela diz que todos foram reduzidos nos contratos ainda vigentes que passaram por licitação.

"Na verdade eles não ganhavam esse valor. Eles custavam esse valor para a empresa. Todos eles foram reduzidos e a planilha de custos que a empresa vencedora da licitação apresentou foi menor do que essa. No custo desses servidores estão embutidos férias, licenças, impostos, enfim, todos os custos da empresa para a manutenção deles", falou.

Sobre as denúncias do Sindicato de que alguns terceirizados não comparecem ao posto de trabalho, a diretora negou a informação e disse que uma fiscalização foi feita no início da atual gestão.

"No início do ano a gente fez um levantamento por setor, indo in loco no interior contactando e sabendo se estavam todos trabalhando. Fomos conhecer o corpo funcional da empresa e nos deparamos com pessoas já de idade, principalmente no campo, onde não tem a menor condição de executarem tarefas como quebrar asfalto, fazer religação e esse tipo de coisa. Não tem condição de funcionar sem colocar um tercerizado", falou.

Imagem: Arte: Adelmo Paixão/G1Resolução alterou quadro de comissionados da Agespisa.(Imagem: Arte: Adelmo Paixão/G1)Resolução alterou quadro de comissionados da Agespisa.

Sobre a realização de concurso público na empresa, ela afirmou que "o momento não seria esse" por conta da criação do Instituto de Águas e da intenção do governo de migrar alguns serviços da Agespisa para a nova entidade.

"Depois que a gente resolver isso aí é que poderíamos partir para essa outra parte [concurso público]. A lei não proíbe contratação de tercerização para atividade que não seja fim e é isso que a Agespisa faz", concluiu.

Atualmente, a Agespisa possui 10 contratos de terceirização, sendo sete deles com uma única empresa. Segundo a administração, o faturamento mensal da Agespisa está em torno de R$ 30 milhões por mês.

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