Criança não passou por ritual de magia, diz dono de salão espírita

22/04/2016 14h16


Fonte G1 PI

Imagem: Reprodução/TV ClubeLocal frequentado pela família de menina que tomou coquetel.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Local frequentado pela família de menina que tomou coquetel.

O proprietário do centro espírita, onde os pais levavam a filha de 10 anos de idade - que foi internada com suspeita intoxicação e marcas de tortura, negou nesta sexta-feira (2) que ela tenha sido submetida a rituais de magia negra. A criança está em coma no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) e os médicos suspeitam do quadro clínico de morte cerebral.

O G1 foi ao salão espírita que fica a 20 km da cidade de Timon, no Maranhão. O dono do local não quis se identificar, mas a reportagem conversou com populares que frenquentavam o lugar. Segundo eles, várias pessoas vão em busca de tratamento de saúde e em alguns casos a "mãe de santo" indica uma "garrafada" (bebida com ervas), produzida e vendida por ela.

Imagem: G1.comClique para ampliarLíquido suspostamente ingerido pela criança durante ritual de magia negra.(Imagem:G1.com)Líquido suspostamente ingerido pela criança durante ritual de magia negra.

Na quarta-feira (20) um líquido supostamente ingerido pela criança foi colhido por familiares e entregue à Polícia Civil do Piauí, que enviou o frasco para análise no estado de Goiás.

Questionado sobre o tratamento oferecido aos participantes das sessões, o dono do salão e marido da "mãe de santo" negou qualquer tortura a crianças e uso de bebidas. Ele revelou que os pais da menina frequentavam o salão há cinco anos em busca de tratamento para cura de asma.

"Aqui só fazemos trabalhos espirituais, não oferecemos nada que prejudique alguém. Rezamos nas pessoas doentes e depois elas ficam curadas. O que estão falando por aí, sobre a gente fazer algum mal, é mentira. Minha mulher foi inclusive hoje para Teresina a pedido da mãe da criança, rezar pela saúde dela",
declarou.

Mais denúncias

Além da menina de 10 anos internada, o Conselho Tutelar IV de Teresina investiga se outras três crianças também teriam sido torturadas em rituais de magia negra. Segundo a conselheira Socorro Arrais, elas apareceram na escola com os cabelos raspados e cicatrizes em forma de cruz feitas com lâminas.

"Já entregamos estas novas denúncias à DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente] e encaminhamos o relatório com todos os casos à Justiça. Estamos tentando identificar os pais dessas crianças e evitar que elas tenham o mesmo destino da menina de 10 anos", comentou a conselheira.

Pais pagariam R$ 3 mil por tratamento
A mãe da menina revelou que pagaria R$ 3 mil para tratar a asma da filha por meio de um ritual de magia negra. Segundo a conselheira tutelar Socorro Arrais, a informação foi durante depoimento na quarta-feira (20) na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente.

"Ela afirmou ser frequentadora do ritual há quatro anos e levava a filha porque queria curá-la de uma asma. A mãe diz que a responsável pelo ritual cobrou R$ 3 mil pelo tratamento, mas que só R$ 500 teriam sido pagos até o momento. Ainda sob orientação dessa mulher, ainda não identificada, a mãe comprou o líquido ingerido pela criança e que provocou a intoxicação",
contou a conselheira revelando ainda que o ritual foi realizado no Maranhão.

Por se tratar de uma tentativa de homicídio, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) encaminhou o caso para o do 11º Distrito Policial. No entanto, o caso voltou à DPCA, que só vai se pronunciar sobre a investgação após o recebimento do laudo que va indicar as substâncas contidas no líquido ingerido pela criança.

Estado de saúde

Para o diretor técnico do Hospital de Urgência de Teresina (HUT), Fábio Marcos de Sousa, a substância tóxica ingerida pela menina determinou um quadro neurológico grave e irreversível, que teve caráter progressivo.

"Coletamos material no estômago da garota e a família também entregou um frasco de vidro contendo o líquido supostamente ingerido pela menina. Encaminhamos tudo para um laboratório em Goiás e a análise do teor da bebida deve sair em 10 dias. Somente com este laudo em mãos vamos abrir o protocolo para confirmar a morte encefálica da paciente",
explicou o médico.

Tópicos: menina, tratamento, ritual