Cidade do PI onde três de quatro mortes por dengue aconteceram registra 1 em cada 5 casos da doença

08/04/2024 10h28


Fonte G1 PI

Imagem: DivulgaçãoMosquito transmissor da dengue.(Imagem:Divulgação)Mosquito transmissor da dengue.

Um em cada cinco casos de dengue registrados em 2024 no Piauí são de Bom Jesus, 604 km ao Sul de Teresina, segundo levantamento do g1, com base em dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde.

A cidade com 28.799 habitantes, conforme o Censo de 2022, também se destaca pelo número de casos prováveis e mortes pela doença neste ano.

Para a coordenação de Vigilância em Saúde da cidade, o sorotipo 2 da doença, que passou a circular desde o fim do ano passado, pode explicar o aumento de casos e de mortes.

A Secretaria de Saúde de Bom Jesus foi procurada para explicar o número de casos e sobre os trabalhos de enfrentamento da dengue, mas não enviou um posicionamento até a publicação desta reportagem.

A Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi) informou que monitora diariamente a presença do Aedes e a ocorrência de casos. Além disso, fornece inseticidas e autoriza o combate pesado com o uso de carro fumacê no município (confira nota ao fim da reportagem).

Dos 5.025 casos prováveis de dengue registrados no Piauí, 1.152 casos da doença são de Bom Jesus. Dentro da cidade, que tem 28 mil habitantes, o índice é ainda mais preocupante. A cada 100 bom-jesuense, três já pegaram dengue. Três pessoas já morreram de dengue no município, em 2024.

Não há, até um momento, um estudo que indique os motivos que levaram ao aumento de casos confirmados de dengue neste ano na cidade.

O g1 procurou especialistas que trabalham com a doença na cidade e a circulação do sorotipo 2 (DENV-2), que aumentou desde o ano o fim do passado, junto da estrutura de saúde, referência na região, e da grande circulação de pessoas de todo o Brasil na cidade por conta do agronegócio, podem explicar o aumento. Abaixo você entende os sorotipos e a relação com os casos graves da doença.

A Joseana Cavalcante, coordenadora da Vigilância em Saúde de Bom Jesus, relatou que os casos do sorotipo 2 explodiram ainda no início de janeiro.

“Bem, o que nos leva a crer é que o que pode ter ocasionado, talvez, a reintrodução do sorotipo 2, através dos exames que foram realizados nos pacientes que foram internados. A gente começou essas primeiras internações em casos graves, já na terceira, quarta semana de janeiro”, contou.

Em 2023, de acordo com a coordenadora, a cidade tinha registrado apenas 73 casos da doença. “Eu monitoro os casos há três anos. Nos anos anteriores, nós não registramos muitos casos durante. O pico geralmente era nos meses de abril e maio”, disse.

Outro fator relevante destacado por Joseana Cavalcante é que muitos focos de dengue são encontrados pela cidade em trabalhos de agentes de endemia. “Aliado a tudo isso, também tem muito descuido da população, nós encontramos muitos focos do mosquito”, relatou.

Exposição a sorotipos diferentes, pode gerar casos mais graves

Até o momento são conhecidos quatro sorotipos de dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, que apresentam distintos materiais genéticos (genótipos) e linhagens.

O infectologista Carlos Henrique Nery, coordenador executivo do Centro de Inteligência em Agravos Tropicais Emergentes e Negligenciados (Ciaten), explicou que dentro dos sorotipos de dengue não existe um sorotipo de dengue mais grave que o outro, mas que as infecções por diferentes sorotipos podem explicar o problema de Bom Jesus.

“Provavelmente eles tinham sido expostos a um dos outros sorotipos do vírus, um, três ou quatro, e são parcialmente imunes e, por isso, mais vulneráveis à infecção pelo sorotipo dois. Essa é uma interpretação que eu, vendo os dados compartilhados”, explicou o infectologista.
Contudo, se infectar por sorotipos diferentes da doença, em momentos diferentes, podem levar as pessoas a desenvolverem casos mais graves da doença.

“Se você tiver dengue de algum tipo, você vai ter proteção contra outros sorotipos por um período, em média, de três meses. Essa imunidade cruzada, parcial, de um vírus contra o outro, leva a casos mais graves”, explicou o infectologista.

Nota da Sesapi

Os casos de dengue no estado do Piauí vêm aumentando progressivamente, com maior intensidade em municípios da região de saúde da Chapa das Mangabeiras, alguns deles já em situação de epidemia.

A SESAPI continua monitorando diariamente tanto a situação da presença do Aedes, como a ocorrência de casos. Além disso, vem fornecendo inseticidas e autorizando o combate pesado com o uso de carro fumacê nos municípios Bom Jesus, Currais, Santa Luz, Alvorada do Gurgueia e Guadalupe.

Tópicos: casos, dengue, sesapi