Após morte em presídio, detentos denunciam falta de socorro médico

06/01/2015 09h30


Fonte G1 PI

Imagem: G1 PIDetento morre dentro de cela na penitenciária Irmão Guido.(Imagem:G1 PI)Detento morre dentro de cela na penitenciária Irmão Guido.

O sistema penitenciário do Piauí registrou nesta segunda-feira (5) a terceira morte nos primeiros cinco dias de 2015. Dessa vez o óbito ocorreu na Penitenciária Irmão Guido, na BR-316, Zona Sul de Teresina. Detentos denunciaram por meio de áudios enviados por telefone que a morte ocorreu por falta de atendimento médico. A Secretaria de Justiça informou que o preso veio a óbito devido a uma crise de úlcera e que o Serviço Móvel Urgência (Samu) foi acionado, mas não chegou a tempo de prestar socorro.

De acordo com o Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sinpoljuspi) a vítima foi identificada como Cleiton Ferreira da Silva, que cumpria pena no pavilhão C por tráfico de drogas há três anos. A morte do homem provocou um princípio de rebelião, que foi contralado com a chegada da Tropa de Choque da Polícia Militar.

Fagner Martins, da diretoria da unidade de administração penitenciária da Sejus, afirmou que a vítima sofria há anos com um problema de saúde e que pela falta de atendimento especializado no presídio, a família foi acionada para marcar uma consulta médica.

"Ele estava com uma consulta marcada para amanhã (6), teve uma crise e sentiu muita dor. Os agentes foram acionados, que de imediato chamaram o Samu. A ambulância veio, mas ele já tinha vindo a óbito", contou.

Em áudios enviados de dentro do presídio para o aplicativo VC no PI TV, da TV Clube, detentos relataram que após a morte houve um princípio de rebelião e a Tropa de Choque da Polícia Militar chegou a ser acionada e efetuou disparos de bala de borracha e bombas de efeito moral.

Em um dos áudios, um preso relata que a situação da penitenciária é caótica e que frequentemente são agredidos. “Nós só queremos saber até quando o estado vai ficar sem se manifestar, porque nós estamos pagando é pelos nossos crimes. Só queremos nossos direitos. Aqui já mataram um no ano passado e agora morreu mais um rapaz sem atendimento. Está aqui no chão com mais de duas horas. Aqui só tem muito é opressão”, relatou.

Em outro trecho, um detento também afirmou que os agentes são negligentes com a situação e narrou o momento em que a Tropa de Choque invadiu o presídio. “Isso é por conta da incompetência dos agentes penitenciários. Eles só sabem agredir a gente. Estão atirando nos presos, querendo matar todos nós. Estão atirando nesse momento, isso é covardia”, narrou.

O diretor administrativo Sinpoljuspi, Kleiton Holanda, confirmou ao G1 a existência de aparelhos celulares dentro do presídio. “Frequentemente são feitas vistorias nas celas e às vezes encontramos celulares escondidos em colchões, em roupas ou em buracos feitos pelos detentos”, disse Kleiton.

Com relação à presença de celulares na unidade prisional, Fágner Martins afirmou que essa é uma realidade antiga, mas que a nova administração tem o objetivo de acabar com isso no Sistema Prisional do Estado. "Estamos assumindo hoje, mas isso acontece há muito tempo. Queremos zerar essa presença, inclusive instalando bloqueadores de sinal de celular", afirmou.

Crime
O Código Penal Brasileiro diz que é crime o uso de celulares em presídios. De acordo com o artigo 349, “ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional” é crime, sujeito a pena que varia entre três meses e um ano de detenção.

O porte de celular na cadeia pode resultar em isolamento para o preso, além de se tornar um agravante para o benefício da progressão da pena.

Tópicos: crime, presídio, morte