Alunas da Ufpi convivem com o medo após morte de Janaína Bezerra

19/02/2023 12h02


Fonte Cidadeverde.com

Imagem: Renato Andrade/Cidadeverde.comUniversidade Federal do Piauí(Imagem:Renato Andrade/Cidadeverde.com)Universidade Federal do Piauí

O assassinato da estudante Janaína Bezerra, 22 anos, no campus da Universidade Federal do Piauí (UFPI) em Teresina, que completa um mês no próximo dia 28 de fevereiro, aumentou ainda mais o medo e a insegurança da comunidade acadêmica, sobretudo de outras universitárias que levam consigo no pensamento: “poderia ter sido eu”.

Os relatos ouvidos pelo Cidadeverde.com de algumas alunas de Jornalismo, curso no qual Janaína Bezerra estava a dois semestres de se formar, revelam que o trágico episódio envolvendo a colega de graduação escancarou o problema do assédio na Ufpi e potencializou a sensação de estarem desprotegidas nos corredores da instituição.

Uma acadêmica do 4° período de Jornalismo, que preferiu não se identificar, externou a tristeza que ainda sente por perder alguém de forma tão brutal do seu convívio diário na UFPI. Por conta do crime ocorrido que tirou a vida de Janaína Bezerra, a jovem afirma que vive constantemente com medo e às vezes pensa em não ir para a Universidade.

“Hoje em dia eu não tenho coragem nem de ir ao banheiro sozinha, com medo de que possa acontecer algo. Às vezes não tenho vontade de ir para a universidade. Não me sinto segura para conhecer mais ambientes da UFPI, acabo ficando sempre nos mesmos lugares para evitar situações que possam me colocar em risco”,
disse a universitária.
Imagem: Renato Andrade/Cidadeverde.comAlunas da Ufpi convivem com o medo após morte de Janaína Bezerra.(Imagem:Renato Andrade/Cidadeverde.com)Alunas da Ufpi convivem com o medo após morte de Janaína Bezerra.

Em meio às vigílias e outros atos realizados ao longo da primeira semana após a morte de Janaína Bezerra, o departamento do curso de Jornalismo suspendeu todas as aulas. Para a professora Juliana Teixeira, que chegou a dar aula para Janaína Bezerra, o momento é de luta, mas ao mesmo tempo de tristeza e indignação pelo que aconteceu.

“É uma tentativa de retomar as coisas, mas sem saber muito em que dimensão. Ao mesmo tempo que estamos tendo que seguir, ficamos olhando para trás, se colocando no lugar. Já conversei com várias alunas, no sentido de que poderia ter sido eu. Todas estão muito com essa sensação, de que poderia ter sido qualquer uma de nós”,
analisou a docente.

Além de discutir medidas para evitar novos episódios semelhantes, a comunidade acadêmica tem desenvolvido atividades para dar apoio emocional para aqueles alunos mais abalados pela tragédia na Universidade. o Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos) e outras entidades têm realizado atividades para prestar esse tipo de suporte.

“Nossa maior preocupação agora está sendo lidar com as questões emocionais mesmo. Fizemos duas mesas redondas em parceria com o departamento para prestar esse acolhimento às pessoas que são da turma da Janaína ou que estavam à sua volta e ficaram abaladas com o que aconteceu”, pontuou Pedro Lucas, coordenador de política do Cacos.
Imagem: Renato Andrade/Cidadeverde.comPedro Lucas, coordenador de política do Cacos. (Imagem:Renato Andrade/Cidadeverde.com)Pedro Lucas, coordenador de política do Cacos. 

A insegurança das pessoas que frequentam a UFPI não é algo recente, em decorrência do assassinato crual de Janaína Bezerra. A morte da jovem, porém, potencializou o medo que se instalou entre alunos e professores por conta de uma onda de assaltos em paradas de ônibus e arrastões de criminosos armados em salas de aulas.

“A sensação de insegurança não é de agora, vem de antes, só que parece que piorou de uns tempos para cá [...] é tudo escuro. O estacionamento do CCE [Centro de Ciências da Educação] é uma escuridão, um breu. Juntando o mato com a escuridão, fica tudo pior”,
relatou uma aluna do 6° de Jornalismo, que também não quis se identificar.

A situação foi constatada pelo Cidadeverde.com ao circular pelos corredores do CCE. Em quase uma hora, uma única vigilante foi vista pela reportagem próxima a uma das paradas de ônibus, onde uma fila de carros particulares se formava aguardando a saída dos alunos que, buscavam sempre se deslocar quase sempre em grupos.

Apesar de grades instaladas em algumas passagens para o controle do fluxo de pessoas, câmeras de vigilância e iluminação em diversas áreas, alguns locais ainda permaneciam completamente às escuras por conta de postes danificados. Neste período, nenhum veículo de patrulha do campus foi avistado pela reportagem.

“Já temos esse medo desde antes, por conta dos assaltos. Com o caso da Janaína, que foi um caso tão extremo, as meninas ficaram ainda mais preocupadas. Tem essa questão da insegurança para todo mundo, só que as meninas tem mais. As alunas sempre tentam andar em grupo pelos corredores”,
afirmou o representantes do Cacos.
Imagem: Renato Andrade/Cidadeverde.comCentro de Ciências da Educação(Imagem:Renato Andrade/Cidadeverde.com)Centro de Ciências da Educação

Por outro lado, a administração da Ufpi garante que além de instituir uma série de ações para apurar as circunstâncias da morte de Janaína Bezerra, como uma comissão de sindicância que irá investigar o caso, tem adotado medidas para intensificar a segurança da comunidade acadêmica em todo o campus.

Além da criação de um Grupo de Trabalho (GT) para elaboração de um protocolo de enfrentamento às questões relativas à violência de gênero no âmbito da instituição de ensino, a UFPI avalia a criação de uma assessoria de segurança e a instalação de uma base móvel de polícia comunitária dentro da Universidade.

O reforço da iluminação em vias internas, substituição de lâmpadas com defeito em vias públicas e limitação do acesso às vias exclusivamente internas da UFPI após as 22 h foram outras ações adotadas pela gestão superior da Universidade para complementar o trabalho dos 190 profissionais que fazem a segurança no campus.



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