Acusado de golpes assumiu por 17 anos identidade de criança morta para fugir da polícia, diz PF

14/06/2021 15h10


Fonte G1 PI

Imagem: Reprodução/TV ClubeTúmulo do menino Elber mendes, em Camocim (CE).(Imagem:Reprodução/TV Clube)Túmulo do menino Elber mendes, em Camocim (CE).

Acusado de diversos golpes e fraudes contra o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Alecsander Martins Coelho assumiu durante 17 anos a identidade de Elber Fabrício Mendes, morto aos 10 anos em um acidente em Camocim (CE), de acordo com a Polícia Federal. Os crimes foram descobertos em 2017, quando ele foi preso com a esposa na Operação Viúvo Negro, da PF, em Teresina.

Segundo a Polícia Federal, os golpes iniciaram em 2004, quando Alecsander usou um documento falso para tentar fazer uma transferência de um veículo. Descoberto pela polícia, ele decidiu forjar a própria morte e assumir a identidade de uma criança morta anos antes, que teria naquela época a mesma idade que ele.
Imagem: Reprodução/TV ClubeElber Mendes morreu aos 10 anos em um acidente de trânsito.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Elber Mendes morreu aos 10 anos em um acidente de trânsito.

Ele procurou o alvo em um cemitério da cidade de Camocim (CE) e encontrou o nome de Elber Fabrício Mendes, garoto que morreu vítima de acidente de trânsito aos 10 anos.

Depois, segundo as investigações da polícia, foi até um cartório e conseguiu uma certidão de nascimento válida e passou então a viver com o nome de Elber. Ele emitiu legalmente todos os documentos necessários, chegando a se casar e se formar como contador com a identidade do menino.

Depois disso, ele criou mais oito identidades, todas com sua foto, mas entre os nomes usados estavam Edivaldo, Alessandro, Elber e Francisco.

O primeiro benefício irregular, segundo a PF, foi uma pensão de um salário mínimo por mês pela suposta morte de Alecsander, que foi paga de 2004 até fevereiro deste ano e teve como favorecidos a mulher dele, Francisca Geandra Gomes, e o filho do casal, Irley Alecsander Gomes Coelho. Um prejuízo de mais de R$ 156 mil à previdência, conforme as investigações.

O casal chegou a morar um tempo no Piauí, mas se separou logo depois. Já com a nova esposa o homem continuou fraudando a previdência, informou a PF. A forma de cometer os crimes era sempre a mesma. Ele criava pessoas fictícias com documentos verdadeiros, contribuía por alguns meses com o INSS e depois “matava” o contribuinte para que seus parentes, que também só existiam no papel, recebessem o benefício.
Imagem: Reprodução/TV ClubeSuperintendência Regional da Polícia Federal no Piauí, em Teresina.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Superintendência Regional da Polícia Federal no Piauí, em Teresina.

Pra tentar confundir as autoridades e dificultar futuras investigações, Alecsander tirava documentos das pessoas em várias cidades diferentes. Em Sobral, no Ceará, por exemplo, a Polícia Federal descobriu que ele registrou pelo menos dois atestados de óbito. Com um deles, em nome de Fádia Soares, ele conseguiu um benefício que foi pago de 2007 até fevereiro de 2021. Já com outra identidade, Alecsander recebeu mais de R$ 500 mil acumulados ao longo de 14 anos.

“Toda a documentação usada perante o INSS era materialmente verdadeira. CPF, RG, carteira de trabalho, certidões de casamento, certidões de óbito. Tudo ele criava, todas verdadeira”, disse o delegado Robério Chaves.
Imagem: Reprodução/TV ClubeDelegado Robério Chaves, da Polícia Federal no Piauí.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Delegado Robério Chaves, da Polícia Federal no Piauí.

Os golpes duraram até 2017, quando a Polícia Federal realizou a operação Viúvo Negro e prendeu Alecsander e a atual mulher dele, Elizana Costa Oliveira. Acusados de fraudar quatro auxílios, que somavam mais de R$ 2 milhões, os dois foram condenados pela justiça por fraudes em benefícios. Ela a quatro anos, em regime semiaberto. Elber pegou nove anos e 10 meses de prisão, cumpriu 2 anos em regime fechado e saiu com progressão de regime.

Mas as investigações continuaram. Um novo inquérito foi instaurado e só então a polícia descobriu que ele usava um nome falso. No local indicado como endereço do homem, ele não foi localizado e não se sabe onde ele está.

Mãe de Elber passou mal ao descobrir
Imagem: Reprodução/TV ClubeLúcia Mendes, mãe do garoto Elber.(Imagem:Reprodução/TV Clube)Lúcia Mendes, mãe do garoto Elber.

A mãe do garoto, Lúcia, hoje com 64 anos, desmaiou ao descobrir que o filho “existia” em documentos.

“E eu, esse tempo todinho, paguei 15 anos de INSS, tô aqui com 64 anos e ainda não consegui me aposentar. Um filho da mãe desse roubando o nome do meu filho”, disse a mãe.
Imagem: Reprodução/TV ClubeMãe e irmã de Elber (Imagem: Reprodução/TV Clube)Mãe e irmã de Elber 

A irmã de Elber, Marina, classificou a situação. “É uma pessoa sem coração mesmo, uma pessoa sem escrúpulos, sem uma índole”.

“Elber era um menino muito alegre, muito contagiante. Era uma criança muito alegre, muito ativa. Tanto é que 10 meses depois o meu pai não resistiu, teve um ataque cardíaco fulminante. Porque para a gente, ele era só alegria. Aí hoje nos encontramos numa situação dessa, é triste”, lamentou a irmã.

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Tópicos: nome, documentos, identidade