Líder da Geral presta depoimento e não vê racismo em cantos da torcida

03/09/2014 12h45


Fonte GloboEsporte.com

 
 Imagem: Tatiana Lopes/GloboEsporte.com Alemão da Geral do Grêmio presta depoimento à polícia.


Chamado a prestar esclarecimentos sobre as injúrias raciais ao goleiro Aranha, do Santos, na Arena, o líder da torcida Geral do Grêmio, Rodrigo Rysdyk, o Alemão, compareceu à 4 Delegacia de Polícia Civil na manhã desta quarta-feira, em Porto Alegre. Acompanhado de um advogado, ele não quis falar à imprensa.

- Já falei tudo o que eu tinha para falar ontem (terça-feira) - resumiu.

De acordo com o comissário de polícia Lindomar Souza, Alemão não foi identificado nas imagens praticando injúrias raciais no jogo contra o Santos.

- Não posso revelar o que ele falou para não atrapalhar as investigações. Mas ele colaborou.

Nos ajuda no sentido de convocar mais pessoas para esclarecimento - disse.

De acordo com o comissário, Alemão não apontou nenhum nome. Disse apenas que conhecia algumas pessoas, mas não saberia identificá-las. Souza ainda afirmou que o líder da torcida não viu as injúrias raciais na Arena na última quinta-feira. Segundo ele, os cantos com a palavra "macaco" existem há 20 anos e não têm cunho racista.

Além de Alemão, que também é conselheiro do Grêmio, outros dois torcedores serão ouvidos ainda na tarde desta quarta na delegacia, e mais dois prestaram depoimento na terça, negando xingamentos ao goleiro Aranha. Na quinta, Patrícia Moreira, flagrada por câmeras gritando "macaco" em direção ao goleiro do Santos, deve comparecer à delegacia. No total, seis torcedores foram intimados.

Em entrevista à Rádio Gaúcha nesta terça, antes de ser intimado pela polícia, Alemão falou sobre a suspensão da Geral por parte da direção do Grêmio. A reportagem do GloboEsporte.com tentou entrar em contato com Rodrigo para falar sobre o assunto, mas ainda não obteve resposta.

- É impossível você identificar uma pessoa no meio da multidão com todos gritando ao mesmo tempo. Tanto que a menina que chamou o goleiro do Santos de "macaco" não foi flagrada pelo áudio e, sim, pela leitura labial. A torcida foi construída também por negros e agora colocar na conta da Geral é uma baita injustiça - afirmou nessa entrevista. - Quem quiser ver está convidado. Vá lá atrás do gol e tire suas próprias conclusões. A geral é contra o racismo. Aliás, contra qualquer forma de preconceito.

Na terça, dois dos seis investigados prestaram depoimento. O gremista Tiago de Oliveira, primeiro a ser ouvido, alegou ter sido confundido com outro torcedor e chegou a mostrar uma foto para provar que estava em outro setor do estádio no dia da partida diante do Santos.

Já Rodrigo Rychter relatou que estava no espaço de onde as ofensas tiveram origem mas negou que tenha dirigido palavras ou gestos ofensivos ao goleiro Aranha. "O depoimento já foi dado e ficou esclarecido que eu não tenho participação", declarou, ao se dirigir à porta de saída da delegacia.


Imagem: Reprodução/ESPNClique para ampliarTorcedora foi flagrada gritando 'macaco'.(Imagem:Reprodução/ESPN)
Torcedora foi flagrada gritando 'macaco'.

Entenda o caso

O incidente no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, ocorreu aos 42 minutos do segundo tempo, quando Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio, alegando ter sido vítima de xingamentos por parte da torcida. O juiz mandou a partida seguir, mesmo sendo alertado por jogadores do Santos dos incidentes que ocorriam fora de campo.

A jovem mostrada pelas imagens do canal ESPN foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Brigada Militar. Patrícia Moreira era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia na clínica da polícia militar gaúcha. As imagens da torcedora ofendendo o goleiro santista começaram a circular pelas redes sociais logo após a partida. Aranha registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia na sexta (29).

Diante da repercussão, Patrícia evitou dormir em casa nos últimos dias. Ela se refugiou em residências de parentes e amigos para evitar retaliação. Pedras foram jogadas em direção a sua casa na noite de sexta-feira. O G1 visitou a região na tarde de sábado e ouviu os vizinhos.

Amigos negros da menina de 23 anos garantem que ela não é racista.

As injúrias raciais proferidas por torcedores gremistas contra o goleiro tiveram mais um desdobramento. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) acatou pedido da Procuradoria de Justiça Desportiva e suspendeu o jogo de volta entre as duas equipes, na próxima quarta-feira (3), até que o caso seja julgado. No primeiro duelo das oitavas da Copa do Brasil, os paulistas bateram os gaúchos por 2 a 0.

O Grêmio responderá por ato de discriminação racial por parte de torcedores, além do arremesso de papel higiênico no gramado e atraso. O clube corre risco de exclusão na Copa do Brasil e multa de até R$ 200 mil. A denúncia se apoia no artigo 243-G (discriminação racial) e no 213 (arremesso de objeto em campo), ambos do CBJD. O clube responde ainda ao artigo 191 por descumprir o regulamento e entrar em campo três minutos após o horário previsto.

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