O músico de Vinicius e Toquinho que faria 80 anos e desapareceu na ditadura argentina

13/06/2021 12h18


Fonte G1


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 Logo depois de um show em um teatro lotado em Buenos Aires, o pianista da banda de Vinicius de Moraes e Toquinho saiu do hotel para ir à farmácia e para comprar cigarro. Nunca mais foi visto.

Eram tempos de perseguições, sequestros, torturas e mortes de opositores na Argentina e no Brasil. Mas o caso do músico Francisco Cerqueira Tenório Júnior, o Tenorinho, é também intrigante porque ele não tinha atividades políticas, segundo pessoas próximas. Seu destino, como o de outras vítimas daquele período atroz, ainda tem várias lacunas.

Na noite de 18 de março de 1976, após o show no teatro Gran Rex, na Avenida Corrientes, Tenorinho, de 34 anos, atravessou as portas do hotel Normandie, onde estava hospedado com os outros artistas. Sem saber, deixava o local para sempre.

Vinicius o procurou em hospitais e delegacias de polícia da capital argentina.

"Vinicius ainda permaneceu alguns dias na Argentina tentando esclarecer o caso e nada conseguiu", disse Toquinho em entrevista por e-mail à BBC News Brasil.

No Brasil, vários músicos, entre eles Aldir Blanc e Gonzaguinha, fizeram abaixo-assinado pedindo respostas sobre o paradeiro de Tenorinho. A mobilização não foi suficiente para que ele fosse localizado.

Toquinho disse que o pianista "era de grande talento, considerado um dos músicos mais importantes da Bossa Nova". E lembrou que seu destino incerto faz parte dos versos da música Lembranças, que fez com Miltinho: "Tenório saiu sozinho na noite / Sumiu / Ninguém soube explicar".

Seu sequestro ocorreu seis dias antes do golpe militar na Argentina, no dia 24 de março. Mas naquela data em que o músico saiu e não voltou, o país já vivia a tensão provocada por atos antidemocráticos contra o governo da então presidente Isabel Perón e que culminaram no golpe.

"A Argentina vivia mais um momento político delicado. Tumultos e insubordinações exigiam o exército nas ruas numa busca constante a conhecidos terroristas e outros suspeitos", opinou Toquinho.

Quase 40 anos depois do desaparecimento do pianista, a mulher de Tenorinho, Carmem Magalhães Tenório Cerqueira, questionou, em 2014, à Comissão Nacional da Verdade, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff: "Onde está Tenorinho?".

No depoimento, ela lembrou que estava grávida do quinto filho do casal quando o caso ocorreu.

"O Tenório era uma pessoa que nunca teve envolvimento algum com política. Ele era uma pessoa que vivia, assim, pra música. Posso até dizer que ele era desligado da realidade imediata. E o que aconteceu com ele é realmente uma coisa que... é um absurdo isso", disse na época.