Mônica Salmaso tem obra que justifica a honra de protagonizar com Chico Buarque o show "Que tal um s

13/09/2022 14h51


Fonte G1

Imagem: Leo AversaClique para ampliarMônica Salmaso e Chico Buarque dividem o palco(Imagem:Leo Aversa)Mônica Salmaso e Chico Buarque dividem o palco

Pelo fato de Mônica Salmaso ainda ser cantora ouvida e cultuada somente em nichos onde a MPB resiste, imune às contemporaneidades do mercado de música pop, certamente haverá quem – entre a fiel e imensa legião de admiradores e seguidores de Chico Buarque – possa estranhar a presença destacada da cantora paulistana na turnê do show Que tal um samba?, estreado pelo artista carioca neste mês de setembro de 2022.

Bem mais do que uma participação especial, a presença de Salmaso no show a coloca quase de igual para igual com o anfitrião na divisão do roteiro que encadeia 36 músicas em 33 números. Solista das seis músicas iniciais, a cantora dá voz a outras 13 músicas com Chico, se contabilizadas as inserções do Samba da minha terra (Dorival Caymmi, 1940) e do Samba da benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) na música-título Que tal um samba? (Chico Buarque, 2022).

E que voz lapidar! Ouvidos atentos, como os de Edu Lobo, já detectaram há anos em Salmaso uma das maiores cantoras do Brasil em todos os tempos. Uma grande cantora hábil na conciliação precisa de técnica apurada e emoção refinada que, tivesse surgido nos anos 1960 ou nos anos 1970, décadas regidas pelo gênero rotulado como MPB na era dos festivais, certamente teria sido posta no mesmo panteão de Nana Caymmi e mesmo de Maria Bethânia.

E por falar na intérprete baiana, Bethânia até então era a única cantora que tinha dividido um show com Chico Buarque em 1975 (até então, o cantor costumava se apresentar com o grupo MPB4). Não é preciso ter visto o show Que tal um samba? para atestar que Salmaso está à altura do convite pelo histórico da artista.

Dividir o palco com Chico Buarque amplia a visibilidade da cantora e simboliza a coroação de trajetória iniciada em 1989 como integrante do elenco da peça O concílio do amor, dirigida pelo encenador mineiro Gabriel Villela.

Quando começou a construir a obra fonográfica, fundada em 1995 com a gravação do álbum Os afro-sambas (1996) com o violonista Paulo Bellinati, Salmaso foi corajosa o suficiente para pavimentar discografia alicerçada nos cânones da MPB e geralmente pautada por regravações (a cantora nunca fez um álbum com músicas majoritariamente inéditas).

Desde então, com extrema coerência, Salmaso vem lançando discos de caráter atemporal, distanciados do tempo presente da música brasileira, o que gera eventualmente a percepção de se tratar de cantora antiga. Assim como o álbum Voadeira (1999) podia ter sido lançado em 2014, o majestoso Corpo de baile (2014) – songbook dedicado ao cancioneiro de Guinga e Aldir Blanc – bem poderia ter chegado ao mercado fonográfico em 1999.

Sob esse prisma, é nítida a afinidade musical entre Mônica Salmaso e Chico Buarque, cantor e compositor também apegado às tradições da MPB e dono de discografia formatada sem as contemporaneidades que tanto seduzem e revigoram Caetano Veloso, para citar somente um exemplo de ícone da MPB que caminha em direção oposta à de Chico, sem que isso diminua o valor e a música de um ou de outro.

Mesmo que não tivesse abordado o cancioneiro de Chico no álbum Noites de gala, samba na rua (2006), Mônica Salmaso já tinha deixado claro que é cantora à altura da obra do compositor de Paratodos (1993). E o fato é que dividir o palco com Chico Buarque no show Que tal um samba? – cuja turnê percorre o Brasil até o primeiro semestre de 2023, pelo menos – contribuirá para que mais e mais ouvintes atentem para a grandeza de Mônica Salmaso.

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Tópicos: cantora, show, samba