Modernismo de 1922 ecoa na arte de Adriana Calcanhotto 100 anos após a semana paulistana

13/02/2022 13h00


Fonte G1

 Imagem: Reprodução
Na capa do disco, a artista aparecia vestida com parangolé. Obra criada pelo artista plástico carioca Hélio Oiticica (1937 ? 1980) nos anos 1960, o parangolé ? nome também de banda(Imagem:Reprodução)
ANÁLISE – Realizada entre 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Theatro Municipal de São Paulo, com as presenças de músicos da esfera clássica como Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) e a pianisa Guiomar Novaes (1894 – 1979), a Semana de Arte Moderna completa 100 anos com ecos na música brasileira.

Um século depois, Adriana Calcanhotto é a artista que, na música do Brasil, mais reverbera o modernismo em discos e shows.

Herdeira da Tropicália, movimento pop que sacudiu a música brasileira entre 1967 e 1968 com Caetano Veloso e Gilberto Gil à frente da organização musical desse movimento que (também) reciclou a estética de 1922, Calcanhotto tem desfolhado bandeiras modernistas desde a década de 1990.

Vinte anos antes de ter servido banquete antropofágico no show A mulher do Pau Brasil (2018), espetáculo de título alusivo ao Manifesto da Poesia Pau Brasil (1924), um dos pilares do movimento modernista organizado por nomes como o escritor paulistano Oswald de Andrade (1890 – 1954), a cantora já havia aberto o álbum Maritmo (1998) com Parangolé Pamplona, música da lavra dessa gaúcha pós-moderna.

Na capa do disco, a artista aparecia vestida com parangolé. Obra criada pelo artista plástico carioca Hélio Oiticica (1937 – 1980) nos anos 1960, o parangolé – nome também de banda de pagode criada na Bahia em 1997, em indício da geleia geral brasileira – são capas e faixas que, não raro, são ornadas com mensagens de caráter político.

No caso de Calcanhotto, a mensagem está na poesia das letras, algumas escritas por poetas como Antonio Cicero, mas a maioria com versos da própria Calcanhotto.

Maritmo é também o disco de Vamos comer Caetano (Adriana Calcanhotto, 1998), iguaria que se nutre da antropofagia modernista.

Como Caetano Veloso, Adriana já se valeu do poema Escapulário (1925), de Oswald de Andrade, para fazer a deglutição tropicalista das conquistas modernistas.

Artista que pegou o micróbio do samba, alcançou o bonde do funk e sintonizou o cancioneiro sentimental das rádios populares, sem nunca sair do trilho vanguardista, Adriana Calcanhoto talvez seja quem mais bem personifica na música popular do Brasil, em 2022, o modernismo já centenário. A mulher do Pau Brasil sabe servir um banquete de signos modernistas.


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