MC Tha acerta ao trazer Alcione para o terreiro, com batidas de funk, no EP Meu santo é forte

21/06/2022 11h37


Fonte G1

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?O tempo leva, o vento traz?, reflete MC Tha no canto de verso de Agolonã, tema afro dos compositores baianos Ederaldo Gentil (1944 ? 2012) e Oscar da Penha (1924 ? 1997), o Batat(Imagem:Reprodução)
“O tempo leva, o vento traz”, reflete MC Tha no canto de verso de Agolonã, tema afro dos compositores baianos Ederaldo Gentil (1944 – 2012) e Oscar da Penha (1924 – 1997), o Batatinha. Apresentado por Alcione no segundo álbum da Marrom, A morte de um poeta (1976), Agolonã ressurge 46 anos depois na voz de MC Tha, como um mantra potencializado pela força dos tambores, no EP Meu santo é forte.

Neste disco que será lançado amanhã, 22 de junho, a cantora e compositora paulistana Thais Dayane da Silva traz Alcione para o terreiro, evidenciando a parcela afro-brasileira do repertório da cantora maranhense em cinco azeitadas regravações feitas sob a direção musical de MC Tha e de Mahal Pita.


Pita é também o produtor musical deste EP que se afina com o espírito afro-brasileiro do primeiro e por ora único álbum da artista, Rito de passá (2019), lançado cinco anos após a MC ter despontado em 2014 com EP produzido por Jaloo.

Egressa da periferia paulistana, mas atualmente transitando por Salvador (BA), MC Tha insere a música de Alcione no som do século XXI – misturando o samba com batidas de funk (concentradas nos atabaques) com arranjos que fogem dos clichês de fusões do gênero – ao mesmo tempo em que viaja até a década de 1970.

Com criatividade, Tha fez o EP Meu santo é forte gerar produto audiovisual inusitado. Em vez de filmar os clipes das cinco faixas do EP editado via Elemess Music, MC Tha põe em rotação um vídeo com o fictício programa de auditório Clima quente show em que, na pele da apresentadora Daday Silva (alusão ao nome da batismo de Tha), a artista evoca Alcione no comando do musical Alerta geral (TV Globo, 1979 / 1981).

Ao longo dos 25 minutos do programa, criado por Vitor Nunes e roteirizado pela cantora, MC Tha é entrevistada pela fictícia Daday Silva enquanto apresenta as cinco músicas do EP gravado com os músicos Alana Gabriela (tambores e efeitos), Chibatinha (guitarras, cavaquinho e viola), Fabinho Scooby (teclados) e Pedro Guinu (teclados), além do produtor Mahal Pita (na programação e nos synths) e das vozes de cantores da Comunidade de Jongo Dito Ribeiro.


Mostrando de cara o acerto da seleção do repertório, que se desvia do óbvio, Agolonã abre o EP Meu santo é forte em gravação que evolui com efeito mântrico até ganhar corpo quando os toques dos tambores se intensificam a partir dos dois minutos e meio da faixa.

Na sequência, o samba São Jorge (Claudinho Azeredo e Paulo César Pinheiro, 1990) – pérola pescada no álbum Emoções reais (1990) – rodopia ao redor da África, entre o samba e o funk, enquanto MC Tha reconta a saga do santo guerreiro que virou orixá.

Samba de Nei Lopes e Reginaldo Bessa apresentado por Alcione há 50 anos, no single de 1972 que marcou a estreia da Marrom em disco, Figa de guiné cai no suingue, com o axé do Candomblé e da Bahia, enquanto reitera a profundidade do mergulho de MC Tha nas águas afro-brasileiras que banham a discografia de Alcione em músicas de menor alcance popular.

É também da Bahia que vem o ijexá Afreketê (Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro, 1987), recriado por MC Tha com o baticum do funk sem tirar o tema do chão de Salvador (BA) na gravação feita com a adesão do paulista Mu540, produtor musical convidado da faixa.


Fechando o EP Meu santo é forte, o samba Corpo fechado (Roque Ferreira e Telma Tavares, 2005) concilia as vozes da Comunidade de Jongo Dito Ribeiro, a africanidade, o axé da Bahia preta e a pulsação do funk na gravação que confirma o total acerto de MC Tha nesta abordagem criativa de músicas menos ouvidas na discografia de Alcione no ano em que a cantora celebra 50 anos de carreira fonográfica.

Os atabaques gingam enquanto MC Tha gira no terreiro em que a Marrom é a grande entidade.


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Tópicos: cantora, samba, alcione