Marina Lima sintetiza no EP Motim e no livro Música e letra os horizontes apontados por obra sem

09/04/2021 18h30


Fonte G1


Imagem: ReproduçãoClique para ampliarMesmo com registros à meia-voz (questão de 1996 já irrelevante em 2021) e distante dos apogeus mercadológicos, Marina Lima continua inteira, sempre tentando mirar os tais novos hor(Imagem:Reprodução)
 Quando Marina Lima diz vislumbrar “novos horizontes” em futuros projetos fonográficos, se liberando do compromisso de gravar álbuns e cogitando inclusive fazer trabalhos coletivos de caráter colaborativo, o discurso da artista de 65 anos jamais soa como mera retórica. Marina sempre olhou para frente, mesmo quando se voltou para o passado.

Os lançamentos estrategicamente simultâneos do EP Motim e do livro Marina Lima – Música e letra – ambos disponíveis a partir desta sexta-feira, 9 de abril, sendo que o songbook com partituras, cifras e letras de 175 composições do repertório de Marina pode ser baixado gratuitamente no site oficial da artista – abrem e ao mesmo tempo fecham ciclo na trajetória dessa cantora e compositora moderna desde que foi revelada na voz de Gal Costa em 1977, um ano antes de debutar em disco com single duplo editado em 1978.

Com quatro músicas que sintetizam os caminhos percorridos por Marina Lima em 43 anos de carreira fonográfica (trajetória documentada em cifras e letras no songbook revisionista), o EP Motim inicia ciclo na discografia da artista mais pelo formato em si do que pelos horizontes revisitados nas quatro inéditas músicas autorais. Até porque o disco marca o reencontro de Marina com o multi-instrumentista Alex Fonseca, produtor musical do disco – em função dividida com a própria Marina Lima – e parceiro da artista em uma das quatro composições.

Marina abre o EP Motim com canção de cunho autobiográfico, Pelos apogeus, conduzida pelo violão tocado pela própria Marina em gravação pontuada ao fim pelas cordas sintetizadas por Alex Fonseca nos teclados.

Canção em que a autora externa gratidão aos “amados e amores” pelo clímax alcançado em diversos estágios da vida pessoal e profissional, Pelos apogeus mapeia o percurso pessoal dessa artista de ascendência piauiense, cuja infância foi vivida entre o calor da cidade do Rio de Janeiro (RJ) – “No começo, era praia / O mar com suas ondas e cor” – e o frio de Washington (EUA).

Na sequência do EP, mixado e masterizado por Carlos Trilha, entra em rotação a música-título Motim, parceria de Marina com Alvin L e com Giovanni Bizzotto (com quem a artista compôs O chamado, música-título de álbum de 1993).

Do lote de inéditas apresentadas no disco, a balada Motim é a composição que expõe o D.N.A. melódico de Marina na seara pop romântica em que a artista deu as cartas nos anos 1980 e 1990. Em Motim, a música, Marina versa sobre paixão platônica em clima outonal, mas com o calor do desejo recorrente na obra dessa artista que sempre deixou implícito ou mesmo explícito que sexo é bom.

Assim como o registro da canção Pelos apogeus, a gravação de Motim também tem o toque do violão de Marina em arranjo que embute o piano suave de Carlos Trilha. A composição Motim surgiu de estudo de violão passado a Bizzotto por Marina. A música em si nasceu da aglutinação de acordes dos dois compositores. Já a letra foi escrita com a adesão de Alvin L na parceria.

Na segunda metade do EP Motim, formada pelas músicas Nóis (Marina Lima) e Kilimanjaro (Marina Lima, Alvin L e Alex Fonseca), Marina adensa a sonoridade com camadas eletrônicas, com recursos que passou a usar progressivamente (sempre com bom gosto) a partir do definidor álbum Fullgás (1984).

Em Nóis, a voz agregadora de Mano Brown soa como mais uma camada do arranjo dessa composição que confere atualidade ao EP Motim por conter na letra versos que falam na “onda de horror” que invadiu o mundo com “vírus matador”.

Já Kilimanjaro – composição formatada a partir da junção de duas músicas distintas, uma de Marina e outra de Alex Fonseca, e gravada com o vocal de Alvin L, autor da letra – destila sensualidade na mesma sintética atmosfera sonora.

Mesmo sem apontar de fato um “novo horizonte” no cancioneiro de Marina Lima, como a artista defende no texto em que conceitua cada uma das quatro músicas do EP Motim, Kilimanjaro expõe a incansável procura de Marina Lima por outros caminhos que a desviem de trilhas já percorridas desde os anos 1970 – disposição já reiterada nos anteriores álbuns de inéditas da artista, Novas famílias (2018) e Clímax (2011).

Mesmo com registros à meia-voz (questão de 1996 já irrelevante em 2021) e distante dos apogeus mercadológicos, Marina Lima continua inteira, sempre tentando mirar os tais novos horizontes em obra que construiu, ela própria, um universo particular na música pop do Brasil.


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