Guinga e Mônica Salmaso atingem a perfeição em disco gravado no Japão entre o lirismo nostálgico e a

23/07/2021 18h11


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoGuinga e Mônica Salmaso atingem a perfeição em disco gravado no Japão entre o lirismo nostálgico(Imagem:Divulgação)Guinga e Mônica Salmaso atingem a perfeição em disco gravado no Japão entre o lirismo nostálgico

Perfeita tradutora das refinadas intenções harmônicas do cancioneiro de Guinga, a cantora paulistana Mônica Salmaso vinha dividindo o palco com o cantor, compositor e violonista carioca em série de shows apresentados pelo Brasil e pelo mundo antes da pandemia.

Como a rota do show abarcou poucas cidades, era preciso um disco que perpetuasse a química dos artistas em cena. Lançado no mercado japonês em janeiro de 2020, o álbum Japan tour 2019 chega ao Brasil neste mês de julho de 2021 – através da gravadora Biscoito Fino, com direito à edição em CD – para preencher essa lacuna no mercado fonográfico nacional.

Com capa que expõe arte de Leonora Weissmann, o disco vem assinado por quarteto fantástico, cuja maestria justifica o uso da expressão já clichê originada do filme baseado nos quadrinhos da Marvel Comics. Além de Guinga (voz e violão) e Salmaso (voz e eventual percussão), há os sopros de Nailor Proveta (clarinete e saxofone) e Teco Cardoso (flautas e pífano) para pontuar tanto o lirismo nostálgico quanto a brejeirice agitada que se harmonizam na obra modernista de Guinga.

Por mais que o título Japan tour 2019 sugira álbum gravado ao vivo, metade das 12 músicas foi registrada por Seigen Ono no estúdio Saidera Mastering em 11 e 12 de abril de 2019, na sequência imediata da realização do show, captado na apresentação feita pelos artistas em 10 de abril de 2019 no Nerima Culture Center, na cidade de Tóquio, capital do Japão.

E o fato é que, ao vivo ou no estúdio, a sintonia entre Guinga e Salmaso alcança a perfeição divina. No palco, o pique frenético do Baião de Lacan (Guinga e Aldir Blanc, 1993) – acompanhado pelo sopro do pífano de Teco Cardoso – exemplifica o entrosamento entre o quarteto no número final do show.

No estúdio, o canto de Salmaso dá o tom preciso da melancolia memorialista de Mello baloeiro (Guinga e Anna Paes, 2018) e se afina com a voz profunda de Guinga na interpretação de Tangará (Guinga, 2018) – duas amostras da beleza arrebatadora da obra do compositor.

Além do encanto, a seleção do repertório agrega valor adicional ao álbum Japan tour 2019. Como Salmaso já dedicou álbum sublime à parceria de Guinga com Paulo César Pinheiro, Corpo de baile (2014), o atual disco japonês oferece ao ouvinte o privilégio de apreciar Salmaso cantar seis títulos do cancioneiro composto por Guinga com Aldir Blanc (1946 – 2020), letrista que retratou delírios cariocas do parceiro em versos surrealistas.

Sete estrelas (Guinga e Aldir Blanc, 1991), faixa gravada em estúdio, é amostra da habilidade de Salmaso para encarar os versos de Aldir. E, como o quarteto atinge a precisão no palco, músicas extraídas do registro do show – caso de Simples e absurdo (Guinga e Aldir Blanc, 1991) – ressurgem com a perfeição que pauta todo o álbum Japan tour 2019.

Música introduzida por lírica passagem instrumental que ultrapassa dois minutos, Odalisca (Guinga e Aldir Blanc, 1991) reitera o domínio absoluto que Salmaso tem da linguagem de Guinga.

Tanto entendimento permite a artista tocar frigideira e fazer vocal na execução do choro Di Menor (Guinga e Celso Viáfora, 1997). Tema quase instrumental, o choro é veículo no disco para a exposição do virtuosismo de Nailor Proveta e Teco Cardoso.

E é preciso ressaltar que, nas faixas cantadas ou nos temas sem letras como Nó na garganta (Guinga, 1996), a presença de Guinga ao violão é fundamental para que a perfeição seja atingida.

Afinal, na obra do artista, a trama do violão no arranjo é parte sempre imprescindível para que a música alcance grandes dimensões, como fica claro no registro de estúdio de Passarinhadeira (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1993). O sopro da flauta de Teco sublinha a melancolia lírica dessa composição assentada sobre o toque do violão de Guinga.

Por ser tocado por Guinga, o violão segue com precisão a linha de acordes costurados pelo compositor, com progressões por vezes incomuns, em músicas como Esconjuros (Guinga e Aldir Blanc, 1991), outra faixa gravada em estúdio.

Entre a africanidade entranhada em Contenda (Guinga e Thiago Amud, 2007) e a pimenta nordestina que tempera Chá de panela (Guinga e Aldir Blanc, 1996), Guinga, Mônica Salmaso, Nailor Proveta e Teco Cardoso – retratados nos traços da artista Leonora Weissmann em ilustrações expostas no encarte da edição em CD do álbum Japan tour 2019 – se elevam ao abordar obra que habita as mais altas esferas da música brasileira.

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Tópicos: disco, compositor, guinga