Francis Hime e Olivia Hime se harmonizam na densidade poética do show "Dois Franciscos"

17/12/2022 10h33


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoFrancis Hime e Olivia Hime(Imagem:Divulgação)Francis Hime e Olivia Hime

Já a caminho dos 80 anos, a serem festejados em junho de 2023, Olivia Hime foi se tornando cantora cada vez mais interessante por atingir alto níveis de densidade interpretativa – a ponto de imprimir forte teatralidade no canto e no gestual ao dar voz a O meu guri (Chico Buarque, 1981), música que Elza Soares (1930 – 2022) tomara para si pela vivência e pelas dores sofridas que a irmanavam com a mãe retratada por Chico Buarque em letra que expõe a tragédia cotidiana de crianças e adolescentes aliciados pelo crime nos morros da cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Interpretado por Olivia no show Dois Franciscos em suíte dramática aberta com o toque e o canto do samba Pivete (1978) por Francis Hime, parceiro de Chico nesta composição, o samba O meu guri aparece linkado no roteiro por afinidade temática com Pietá (Francis Hime e Silvana Gontijo, 2019).

O número é um dos pontos mais altos do show em que Olivia se junta ao parceiro de vida e música, Francis Hime, para dar voz a músicas dos dois Franciscos do título do recital.

Um Francisco é Chico Buarque de Hollanda. O outro é mesmo Francis Victor Walter Hime, mestre da composição, dos arranjos e do piano de atuais 83 anos – chamado de Francisco pelos amigos, como contou Olivia para a plateia que assistiu à estreia do show em Niterói (RJ), no elegante teatro batizado como Sala Nelson Pereira dos Santos, na noite de ontem, 16 de dezembro.

O show Dois Franciscos chegou a Niterói (RJ), após algumas apresentações no Rio de Janeiro (RJ), cidade que inspirou a Suíte carioca com que Francis abriu o show sozinho ao piano que vale por uma orquestra, em número instrumental em que costurou músicas como Corcovado (Antonio Carlos Jobim, 1960), Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969), Vai passar (Chico Buarque e Francis Hime, 1984) e Piano na Mangueira (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1992).

Olivia entrou em cena quando Francis cantava o verso “...E se eu convidá-la para dançar”, da música E se... (Francis Hime e Chico Buarque, 1980), emendada com Outros sonhos (Chico Buarque, 2006) na voz da cantora após ganhar caco de Francis no verso “...E se o Carnaval cair em abril” (“E não é que caiu?”, gracejou Francis em alusão à mudança do calendário da folia neste ano de 2022 por conta da pandemia).

A maturação do canto de Olivia Hime ficou evidente quando a intérprete abordou Embarcação (Francis Hime e Chico Buarque, 1972) – originalmente um samba nas gravações lançadas há 40 anos em discos de Francis e Simone – em forma de canção, em sintonia com a densidade da letra.

Embarcação foi outro ponto alto de show que transitou pela espessura poética da parceria de Francis e Chico, iniciada há 50 anos com a criação da canção Atrás da porta (Francis Hime e Chico Buarque, 1972).

Apresentada na voz de Elis Regina (1945 – 1982), Atrás da porta ganhou a voz de Francis no show em distribuição surpreendente pelo eu-lírico da canção ser feminino. A inversão de gênero teve sequência de forma menos explícita no número seguinte, Trocando em miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977), com Olivia dando voz aos versos em que um presumível marido deixa a casa da mulher para consumar a separação do casal.

A dramaticidade igualmente poética da obra de Francis com Vinicius de Moraes (1913 – 1980), primeiro parceiro do compositor, também adensou o show em números como Anoiteceu (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1966) e Saudade de amar (Francis Hime e Vinicius de Moraes, 1966).

Entre solos vocais e duetos, como o feito na cada vez mais atual Passaredo (Francis Hime e Chico Buarque, 1977), Francis e Olivia Hime se irmanaram no requinte do cancioneiro de roteiro que abarcou Morro Dois Irmãos (Chico Buarque, 1989) – música gravada pela cantora no álbum Alta madrugada (1997) – e Mar e lua (Chico Buarque, 1980), além de Todo o sentimento (Cristovão Bastos e Chico Buarque, 1987), canção iniciada por Olivia e arrematada por Francis na parte final até que o casal chegou junto ao fim em total harmonia.

Em essência, harmonia talvez seja a palavra-chave que sintetiza as músicas e os artistas do show Dois Franciscos. Ainda que Olivia Hime tenha mostrado eventuais hesitações com uma ou outra letra, perfeitamente naturais diante do encadeamento complexo de versos como os de O que será (À flor da pele) (Chico Buarque, 1976), o casal se afina no show Dois Franciscos pela irmandade das duas almas musicais.

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Tópicos: show, samba, franciscos