Filme expõe origens da lambada, no Pará dos anos 1970, em tom didático

12/06/2023 15h14


Fonte G1

 Imagem: Divulgação
PInduca, nome indissociável do carimbó, discorre sobre a origem da lambada no filme que estreia esta semana em festival em São Paulo(Imagem:Divulgação)PInduca, nome indissociável do carimbó, discorre sobre a origem da lambada no filme que estreia esta semana em festival em São Paulo

Filme exibido na programação da 15ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical com sessões em São Paulo (SP) em 16 de junho, às 16h, na Cinemateca brasileira; 20 de junho, às 16h, na Sala Paulo Emilio do CCSP e 23 de junho, às 15h, no SPCine Olido

Para brasileiros residentes fora das regiões norte e nordeste do país, a lambada virou febre nacional quando a música Adocica, composta e gravada por Beto Barbosa em 1988, estourou em todo o Brasil no ano seguinte e deu fama ao cantor paraense, impulsionando o ritmo ao qual Barbosa adicionou forte carga de sensualidade.

Tudo pareceu novidade aos etnocêntricos ouvidos cariocas e paulistas. Contudo, esse gênero musical de ascendência caribenha começara a ganhar forma no Pará ao longo da década de 1970. É o que mostra, em tom didático, o filme As origens da lambada, roteirizado por Sonia Ferro, cineasta que assina com Félix Robatto a direção do média-metragem de 52 minutos.

Uma das atrações inéditas da programação da 15ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, que acontece em São Paulo (SP) de 14 a 25 de junho, o filme As origens da lambada cumpre o que promete o título.

Mesmo sem o testemunho de Beto Barbosa, o documentário reconstitui a gênese do gênero através dos depoimentos de artistas do norte (como Pinduca – cantor e compositor associado ao carimbó, mas também pioneiro na lambada – e o guitarrista Mestre Solano), radialistas e produtores musicais.

Através dos depoimentos, fica-se sabendo que o embrião da lambada foram os merengues que chegavam ao Pará pelas ondas das rádios do Caribe. O tempero brasileiro posto pelos músicos do Pará nos ritmos tropicalientes geraram a lambada. “Lambada na guitarra é guitarrada”, ensina verso de música do cantor e guitarrista Félix Robatto, cuja pesquisa sobre as origens da lambada norteou o filme.

Pioneiro, Pinduca – nome artístico do artista paraense Aurino Quirino Gonçalves – eletrificou o carimbó nos anos 1970, década em que gravou a primeira música intitulada lambada. A gravação de Lambada (Pinduca) foi lançada com o rótulo de “sambão” no selo de disco de 1976, mesmo ano em que Vieira e seu Conjunto gravaram o álbum Lambadas das quebradas, lançado somente em 1978.

Nesses primórdios, o gênero era prioritariamente instrumental. Foi somente a partir dos anos 1980 que a lambada foi se espraiando pelo norte e nordeste do Brasil com vocais – a ponto de a antenada cantora paraense Fafá de Belém ter incluído pot-pourris de lambadas nos álbuns que gravou em 1986 e 1987.

Desde que surgiu em 1975, Fafá sempre teve a visibilidade nacional nunca alcançada por Márcia Ferreira, cantora que, a despeito da origem mineira, ajudou a propagar a lambada no norte e nordeste na década de 1980.

Intérprete original de Chorando se foi (1986), Márcia é uma das personagens desse filme que fala muito de Beto Barbosa e de Loalwa Braz (1953 – 2017), cantora carioca alçada à fama mundial como vocalista grupo franco-brasileiro Kaoma de 1988 a 1999.

Loalwa foi a voz mais famosa de Chorando se foi, versão em português de Llorando se fue, canção de ritmo andino composta por Ulisses Hermosa com Gonzalo Hermosa e lançada em 1981 disco do grupo boliviano Los Kjarkas.

Chorando se foi virou lambada no toque do Kaoma e estourou na França em 1988. No ano seguinte, a lambada já era febre no Brasil, distanciada das origens relatadas com clareza didática no simpático filme de Sonia Ferro e Félix Robatto, ilustrado musicalmente com números de show apresentado por Robatto em outubro de 2019, em Belém (PA), no festival Lambateria.

Sim, a lambada nasceu antes da explosão nacional de Beto Barbosa.

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