Djavan depura obra com o jazz das Alagoas, na Suíça, em álbum ao vivo sem prazo de validade

11/03/2022 10h52


Fonte G1

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Enfim, diante da inexistência de registro ao vivo do show Malásia (1996 / 1997), o álbum Ao vivo no Montreux Jazz Festival 1997 chega em boa hora porque, embora o tempo não pare, a(Imagem:Reprodução)
A assinatura imutável do cancioneiro de Djavan é tão indelével que jamais soa datada a edição, em 11 de março de 2022, de disco ao vivo com a gravação de show feito pelo artista em 5 de julho de 1997. As 15 músicas autorais captadas há 25 anos na apresentação do cantor no Auditorium Stravinski, em festival na Suíça, poderiam ter sido registradas na semana passada pela perenidade e frescor do som.

O que se ouve no disco Ao vivo no Montreux Jazz Festival 1997 é um cantor depurando obra já em si sofisticada, com a liberdade potencializada pelo fato de estar se apresentando em festival de jazz.

O show de Djavan no Festival de Montreux de 1997 flagra o artista na turnê do álbum Malásia (1996), a dois anos da guinada pop que seria dada com o disco posterior Bicho solto, o XIII (1998) sem macular ou diluir a obra do compositor.

Reduzido a 15 números para caber no tempo destinado ao cantor no line-up do festival, o show sintetiza os caminhos de Djavan até então – trilha da qual o artista jamais se afastou, o que impede o disco de soar antigo.

Música que abre o álbum Malásia, o blues Que foi my love? (1996) mostra Djavan djavaneando o jazz das Alagoas com leveza entre floreios do piano de Paulo Calasans até cair no suingue dos metais e dos scats do intérprete. Outra música vinda do repertório do disco Malásia, Seca (1996) rega a aridez do sertão nordestino – entranhado na obra de Djavan desde os anos 1970 – com alto grau de refinamento melódico e harmônico.

Entre uma música e outra, as sucessivas quebradas do seminal samba Fato consumado (1975) – veículo para o lançamento do compositor na plataforma do festival Abertura, promovido pela TV Globo em 1975 – indica os caminhos intencionalmente sinuosos de cancioneiro que nunca seguiu em linha reta, nem mesmo em baladas impregnadas de romantismo, caso de Oceano (1989), canção popular rebobinada neste disco valorizado pela alta qualidade técnica da gravação.

Mesmo com a voz de Djavan posta em primeiro plano na mixagem, ouve-se bem todos os instrumentos, mas não o canto do público, o que tira o brilho do momento em que Djavan pede ao público para acompanhá-lo na balada Meu bem querer (1980), ouvida com arranjo fiel ao da gravação original do álbum Alumbramento (1980).

Já Cigano (1989) tem a fluência pop atravessada no meio da música por passagem jazzística que reitera a complexidade do cancioneiro aparentemente simples de Djavan. Essa fluência pop rege o bloco final que encadeia Samurai (1982), Sina (1982) e o samba Flor de lis (1976).

Em contrapartida, Malásia (1996) transita na contramão do som convencionalmente rotulado de pop pelo alto grau de inventividade melódica e harmônica da composição-título do disco de 1996 enquanto Irmã de neon (1996) reprocessa o suingue da música cubana sem os clichês da latinidade.

Veículo para a exposição do virtuosismo do toque do baixo de Marcelo Mariano, o tortuoso samba Aquele um é a única música assinada por Djavan com parceiro – no caso, com Aldir Blanc (1946 – 2020) e, justiça seja feita, a sintaxe da lírica de Aldir parece submetida à linguagem da musicalidade sagaz de Djavan.

Enfim, diante da inexistência de registro ao vivo do show Malásia (1996 / 1997), o álbum Ao vivo no Montreux Jazz Festival 1997 chega em boa hora porque, embora o tempo não pare, a obra de Djavan nunca envelhece.

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Tópicos: cantor, samba, cancioneiro