Das maravilhas de Teresa Cristina, fez-se o esplendor de uma noite

28/02/2021 21h12


Fonte G1 PI

Imagem: ReproduçãoClique para ampliarNa sequência, a artista reacendeu Candeeiro (Teresa Cristina, 2002), samba com o qual, há 19 anos, começou a abrir alas e pedir passagem como compositora entre a nobreza dos bambas(Imagem:Reprodução)
Teresa Cristina esperou 53 anos para subir ao palco da casa Vivo Rio para apresentar show solo, intitulado Live de aniversário pela ausência de plateia presencial e por festejar a vinda da artista ao mundo em 28 de fevereiro de 1968. A estreia no palco carioca veio no momento mais luminoso da trajetória dessa artista carioca que entrou em cena em 1998, aos 30 anos.

Entronizada em 2020 no posto de rainha das lives, pela promoção de encontros noturnos que aglutinaram estrelas da MPB e público afinado com as lutas por liberdade e justiça social, Teresa Cristina ocupa atualmente outro patamar no escalão da música brasileira.

Contudo, a artista pisou no palco da casa Vivo Rio com a mesma simplicidade, ideologia e repertório de shows anteriores, como se sinalizasse que a vida a fez assim e que, sim, continua fiel a si mesma e às escolhas que tem feito ao longo da carreira fonográfica iniciada em 2002.

Tal fidelidade soou perceptível na saudação política ao povo de santo, nos punhos cerrados com que encerrou o canto do samba-enredo Heróis da liberdade (Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manoel Ferreira, Império Serrano, Carnaval de 1969) – primeiro número de bloco que encadeou sambas das agremiações foliãs do Rio de Janeiro em homenagem aos profissionais do Carnaval – e na maneira com que iniciou a apresentação.

Após apresentar da coxia os seis músicos da banda, a cantora entrou no palco e reproduziu o medley com Gorjear da passarada (Argemiro Patrocínio e Casquinha, 1981) e A vida me fez assim (Argemiro Patrocínio e Teresa Cristina, 2004) perpetuado no álbum e DVD O mundo é meu lugar – Teresa Cristina e Grupo Semente ao vivo (2005).

Na sequência, a artista reacendeu Candeeiro (Teresa Cristina, 2002), samba com o qual, há 19 anos, começou a abrir alas e pedir passagem como compositora entre a nobreza dos bambas.

Na pele de pantera negra, realçada pelo figurino brilhante de Milton Castanheira, Teresa Cristina recusou o posto de diva quando, após saudar Oxóssi em Capitão do Mato (Teresa Cristina, 2010), pediu ao roadie para tirar as sandálias que a incomodavam. “Elegante nem está, mas tô livre”, festejou a artista, com a liberdade de ser quem é.

E, por ser quem é, Teresa Cristina apresentou, ao longo do roteiro da Live de aniversário, quatro músicas inéditas que soaram fiéis à ideologia musical da compositora, valorizando a apresentação.

Em Canto pra Ogum (Teresa Cristina, 2021), a artista saudou o orixá em número em que o gestual de Teresa sublinhou o significado dos versos desse samba de toque africano em que a cantora tanto apontou a lança de Ogum como o próprio progresso como intérprete.

Nostalgia (Teresa Cristina, 2021) ganhou a forma de samba de toque rural, evocativo tanto do universo do calango fluminense quanto da pegada da chula baiana – com direito à letra que versou liricamente sobre o voo do passarinho, símbolo do amor que vai embora.

Parceria de Teresa com Moacyr Luz, bamba do samba carioca, Yabá (2021) afagou a doçura feminina da mulher afro-brasileira. Fechando o lote de inéditas, Dona do ouro (Teresa Cristina, 2021) louvou Oxum no canto resplandecente da artista com a batida do samba afro, gênero recorrente no cancioneiro autoral da compositora. Aliás, pela intimidade com essa linha do samba, a cantora expôs toda a luminosidade de Gema (Caetano Veloso, 1980).