Alceu Valença vai do lirismo sensual à folia sinfônica em segundo álbum com a Orquestra Ouro Preto

23/08/2022 14h26


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoAlceu Valença vai do lirismo sensual à folia sinfônica em segundo álbum com a Orquestra Ouro Preto(Imagem:Divulgação)Alceu Valença vai do lirismo sensual à folia sinfônica em segundo álbum com a Orquestra Ouro Preto

Dez anos após a estreia, o projeto sinfônico Valencianas (2012) gera um segundo álbum, programado para sexta-feira, 26 de agosto, com o registro do concerto captado em 20 de janeiro de 2020 em apresentação de Alceu Valença com a Orquestra Ouro Preto na Casa da Música, no Porto, cidade de Portugal.

Por mais que o formato do disco Valencianas II – Ao vivo em Portugal soe déjà vu para quem conhece o álbum ao vivo editado em 2014, a obra de Alceu Valença resiste esplendidamente a um segundo enquadramento na moldura sinfônica da orquestra mineira sob a regência do maestro Rodrigo Toffolo.

Os arranjos de Mateus Freire respeitam a essência da obra do compositor pernambucano. Aliás, a excelência de Freire como orquestrador salta aos ouvidos logo na inédita suíte Valencianas II.

Alocada na abertura do disco, a suíte instrumental agrega três títulos menos óbvios do cancioneiro autoral de Alceu – Rima com rima (1982), A moça e povo (1980) e Seixo miúdo (1981) – em orquestração majestosa que combina grandiloquência, dramaticidade, lirismo, tensão e a pulsação frenética de parte da obra do compositor.

O álbum Valencianas II chega ao mundo digital dois anos após a edição do single que apresentou a abordagem de Tomara (Alceu Valença e Rubem Valença Filho, 1990). Composição apresentada por Maria Bethânia dois anos antes de ser gravada pelo compositor no álbum 7 desejos (1992), Tomara é uma das 18 músicas distribuídas nos 15 números que compõem o programa do concerto.

Com a voz de Alceu em 11 desses 15 números, Valencianas II joga luz sobre músicas ofuscadas como Dia branco (1974) – de título homônimo da canção de Geraldo Azevedo e Renato Rocha – ao mesmo tempo em que rebobina sucessos como Solidão (1994) e Como dois animais (1982), tema de contorno sensual.

A propósito, é fato que o invólucro orquestral corta parte do lirismo sensual afiado na gravação original de Tesoura do desejo (1992), feita pelo cantor com Zizi Possi há 30 anos. Em contrapartida, a Orquestra Ouro Preto consegue cair macia no suingue do Samba do tempo (2005) em arranjo de evidenciado toque percussivo.

Há suave evocação da bossa carioca nesse número que somente surpreenderá quem desconhece que o percurso musical de Alceu – embora iniciado e centrado entre Olinda (PE) e Recife (PE), como sinaliza o itinerário de Pelas ruas que andei (Alceu Valença e Vicente Barreto, 1982) – também abarca a cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Entre a sensualidade de Íris (1987) e a folia que pauta De janeiro a janeiro (2002), evocadas pela Orquestra Ouro Preto em registros instrumentais, a big band mineira honra os sotaques e ritmos do cancioneiro de Alceu sob a regência de Rodrigo Toffolo. Acertando o passo ágil de Papagaio do futuro (1972) sem se embolar, em outro número sem Alceu, a Orquestra do Ouro Preto reitera a maestria com que aborda a obra do compositor pernambucano.

O cantor reaparece na 11º faixa do álbum Valencianas II para dar voz a Eu vou fazer você voar (Alceu Valença e Herbert Azul, 2019), música mais recente do programa, lançada em single dois meses antes do concerto gravado em Portugal.

O voo de Valencianas II termina com o embarque em Táxi lunar (Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, 1979). Feita em segurança, a viagem sinfônica de Valencianas II termina feliz porque a obra de Alceu Valença é sólida e farta o suficiente para sustentar mais um disco pautado por releituras.

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