Álbum definidor de Mônica Salmaso, "Iaiá" sai em LP em edição valorizada pela fartura de informações

17/11/2021 16h26


Fonte G1

Imagem: DivulgaçãoMônica Salmaso(Imagem:Divulgação)Mônica Salmaso

Por mais que venha sem duas das 13 faixas da edição original em CD lançada em 2004, por falta de espaço no vinil, a edição em LP do quarto álbum de Mônica Salmaso, Iaiá, tem atrativos para fisgar seguidores dessa cantora paulistana que, revelada com o álbum Os afro-sambas (1996), se impôs ao longo dos últimos 25 anos como uma das grandes vozes da MPB de todos os tempos.

Em que pese a beleza da capa dura que embala o LP com arte inspirada na capa original, sem reproduzir exatamente a arte do CD, o real atrativo da edição em vinil de Iaiá é o encarte em forma de libreto que traz extenso e detalhado faixa-a-faixa do disco, guiado pela artista, além de depoimentos inéditos de nomes como Teresa Cristina, Tom Zé, José Miguel Wisnik e Rodolfo Stroeter, produtor musical do álbum, do qual assina também a direção musical com a própria Mônica Salmaso.

Álbum definidor que impulsionou a carreira de Salmaso, que desde então vem angariando seguidores nos nichos em que ainda se cultua a MPB, Iaiá corroborou e sedimentou a opção da cantora por sonoridade singular, acústica, calcada na precisão dos toques de instrumentistas como André Mehmari (piano), Paulo Bellinati (violão) e Teco Cardoso (saxofone e flautas), além do próprio Rodolfo Stroeter (baixo).

A rigor, essa sonoridade precisa e delicada já vinha sendo experimentada com êxito pela artista nos dois álbuns anteriores, Trampolim (1998) e Voadeira (1999). Aclamado entre os críticos, Voadeira abriu caminho para que Salmaso fosse contratada pela gravadora Biscoito Fino, por onde a cantora lançou Iaiá com repertório primoroso que apontou trilhas que seriam seguidas pela artista em discos posteriores.

Se o registro solene de Por toda a minha vida (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) sinalizou o tom cerimonioso adquirido pelo canto da artista (quase) sempre que Salmaso se aproxima do universo da música de câmara com a voz e a alma lírica, Moro na roça (tema de domínio público em adaptação de Xangô da Mangueira e Zagaia) – reverência de Salmaso a Clementina de Jesus (1901 – 1987), feita em gravação assentada sobre a percussão de Robertinho Silva – indicou a trilha ruralista que seria expandida em Caipira (2017), disco em que a cantora redimensionou o conceito de música caipira.

Sinhazinha (Despertar) (Chico Buarque, 1983) apontou o apreço da intérprete pelo cancioneiro lapidar de Chico Buarque, compositor dono de obra abordada majestosamente por Salmaso em Noite de gala – Samba na rua (2007), songbook que gerou DVD e álbum ao vivo em 2009.

Já Doce na feira (Jair do Cavaquinho e Altair Costa, 2002) era a iguaria vinda dos terreiros cariocas em que prolifera o samba, cuja cadência é seguida por Salmaso em Cidade lagoa (Cícero Nunes e Sebastião Fonseca, 1959) e Na aldeia (Alberto Dias, De Chocolat e Silvio Caldas, 1933).

Já Cabrochinha (Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro, 1997) evolui com leveza entre o samba e o choro com a verve de letra rimada, pintada e bordada pelo poeta com palavras em francês usadas na língua portuguesa.

Como relatado no informativo libreto que valoriza a edição em LP de Iaiá, parte do repertório do álbum foi recolhida por Salmaso nos roteiros dos oito shows temáticos que idealizou e apresentou no Sesc de São Paulo entre 2002 e 2003 em série intitulada Ponto in comum.

Foi o caso de Vingança (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso, 1936), tema de aura trágica, situado em área rural na gravação feita com o toque do acordeom de Toninho Ferragutti.

Outras composições entraram durante o processo de gravação do álbum Iaiá, caso de Estrela de Oxum (Rodolfo Stroeter e Joyce Moreno, 2003), sugerida por Stroeter, autor da melodia letrada por Joyce Moreno.

Música que abre o lado B na disposição das 11 faixas no LP, Assum branco (José Miguel Wisnik, 1997) reforçou o elo de Salmaso com o compositor José Miguel Wisnik, parceiro de Ronaldo Bastos na música que deu título ao segundo álbum da cantora, o já mencionado Trampolim.

Menina amanhã de manhã (Tom Zé e Perna Fróes, 1972) – música que, por feliz coincidência, está incluída na trilha sonora da atual novela das 21h da TV Globo, Um lugar ao sol – completa o repertório irretocável de Iaiá, álbum ora reeditado em LP sem as gravações de É doce morrer no mar (Dorival Caymmi e Jorge Amado, 1941) e Onde ir (Vanessa da Mata, 2002), já que as 13 faixas do CD totalizavam 53 minutos, tempo demais para todas as músicas caberem em um único LP.

Para quem abre mão da limpidez do som do CD (ainda a melhor mídia física no que diz respeito ao áudio), sem se importar de pagar caro pelo prazer de manusear um LP e escutar o som do vinil, a edição em LP de Iaiá é mimo que justifica o investimento de R$ 210 – preço cobrado no site da gravadora Biscoito Fino – pelo requinte do tratamento gráfico e pela fartura de informações reunidas no encarte-libreto.

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