Fãs levam cartazes ao velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio

25/07/2025 09h08


Fonte Revista Quem

Imagem: @alexsantanaphotographer e QuemPreta Gil ganha homenagens de fãs em velório.(Imagem: @alexsantanaphotographer e Quem)Preta Gil ganha homenagens de fãs em velório.

Antes mesmo do início oficial do velório de Preta Gil, fãs e admiradores da cantora já se organizavam em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro para se despedir da cantora. Com cartazes, eles prestaram suas homenagens à cantora, que morreu no último domingo, nos Estados Unidos.

Por volta das 7h da manhã, quando a equipe de reportagem da Quem já estava no local, admiradores com cartazes em mãos já haviam se concentrado no espaço. As mensagens exibidas nas faixas traziam dizeres como "Descanse em paz, Preta" e "Vá com Deus, Preta Gil".

O corpo de Preta Gil é velado, nesta sexta-feira (25), no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no Centro da cidade. A família da cantora acompanhou o translado, finalizado na quinta (24), uma vez que ela estava nos EUA para um tratamento alternativo de um câncer colorretal.
Imagem: Eduardo Martins / Brazil NewsFãs levam cartazes em velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio.(Imagem:Eduardo Martins / Brazil News)Fãs levam cartazes em velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio.

A cerimônia acontece em duas etapas: primeiro, na centenária casa de artes, aberto ao público, de 9h às 13h, e depois no Cemitério e Crematório da Penitência, na zona portuária da cidade, até as 17h. Esta segunda cerimônia, no entanto, é reservada para amigos próximos e familiares, onde vai ocorrer a cremação. Os fãs se reuniram com cartazes no último adeus à artista.

Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, Preta deixa um filho, Francisco Gil, de 30, e uma neta, Sol de Maria, de 9. Além de seis irmãos: Maria Gil, Marília Gil, Nara Gil, Bem Gil, Bela Gil e José Gil. Ela já perdeu Pedro, que morreu em um acidente de carro, em 1990.
Imagem: Eduardo Martins / Brazil NewsFãs levam cartazes em velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio.(Imagem:Eduardo Martins / Brazil News)Fãs levam cartazes em velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio.

Preta era a quarta dos oito filhos de Gilberto Gil. Afilhada de Gal Costa, chamava Caetano Veloso de tio e cresceu brincando com os filhos de outros medalhões da música. Tinha tatuado no braço “Drão”, apelido de sua mãe, Sandra Gadelha, nome de uma das músicas mais lindas do pai e sua favorita, como ela mesma gostava de dizer. Contava que com 5 anos “botava maiozinho e imitava as Chacretes, a Gretchen, as Frenéticas”.

Ela deixa também um legado de luta contra o racismo, pelo direito das mulheres e da comunidade LGBT+, e pela autoaceitação e amor-próprio.
Imagem: Manuela Scarpa/ BrazilNewsFãs levam cartazes em velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio.(Imagem:Manuela Scarpa/ BrazilNews)Fãs levam cartazes em velório de Preta Gil no Theatro Municipal do Rio.

Cortejo em carro aberto

Entre os dois pontos da cidade, o corpo de Preta vai percorrer um cortejo especial programado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que também mobilizou um esquema especial de trânsito para possibilitar que os fãs e amigos se despedissem. Diferente do que ela já manifestou, de ser levada em um trio elétrico, ela será conduzida por um carro especial do Corpo de Bombeiros.

Após as despedidas no foyer do Theatro Municipal, o corpo seguirá pela rua Araújo Porto Alegre, depois segue para a Av. Presidente Antônio Carlos e Rua Primeiro de Março, onde é realizado o circuito dos megablocos, hoje nomeado Preta Gil. Foi neste lugar que ela desfilou pela última vez com o icônico Bloco da Preta, que mudou o cenário do Carnaval de rua da cidade.

Depois, segue pela Av. Presidente Vargas, pela Av. Francisco Bicalho, pega o Viaduto do Gasômetro e depois, a pista lateral da Av. Brasil, na altura do Caju, para entrar na rua Monsenhor Manuel Gomes, onde fica o Cemitério e Crematório da Penitência.
Imagem: THIAGO MATTOS/BRAZIL NEWSCorpo da cantora Preta Gil chega ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro para ser velado.(Imagem:THIAGO MATTOS/BRAZIL NEWS)Corpo da cantora Preta Gil chega ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro para ser velado.

O câncer

Preta Gil morreu aos 50 anos, no domingo (20), em decorrência de um câncer. A cantora, compositora, empresária e atriz estava em Nova York, onde passava por um tratamento experimental para tratar a doença colorretal, diagnosticado em janeiro de 2023 e que entrou em remissão no final do mesmo ano. Em agosto de 2024, a doença voltou em quatro locais do corpo: dois linfonodos, uma metástase no peritônio e um nódulo no ureter.

Ela chegou a procurar uma segunda opinião no exterior e fez uma cirurgia de 20 horas no dia 19 de dezembro para retirada dos tumores. Ao longo de todo o tratamento contra a doença, a cantora compartilhou a rotina de exames, internações e cirurgias com os fãs, das pequenas vitórias aos grandes reveses, como o choque séptico gravíssimo e o fim do casamento devido à traição do ex-marido.
Imagem: Reprodução/InstagramPreta Gil ganha homenagens de fãs em velório.(Imagem:Reprodução/Instagram)Preta Gil

Em agosto de 2023, passou por uma cirurgia de 14 horas, para extirpar o tumor e ainda fazer uma histerectomia total abdominal — retirada do útero por meio uma incisão no abdômen. Só ano seguinte ela revelou que precisou amputar o reto.

No final de novembro daquele ano, anunciou que voltaria ao hospital, para reverter a ileostomia feita na primeira operação. "É fazer habilitação, me adaptar e seguir a vida. Sou muito grata de verdade", disse ela ao falar dos exames pré-operatórios, mais uma vez compartilhando com o público mais uma passo na jornada contra a doença.
Imagem: Reprodução/InstagramPreta Gil mostra bastidores do novo tratamento nos Estados Unidos.(Imagem:Reprodução/Instagram)Preta Gil mostra bastidores do novo tratamento nos Estados Unidos.

Em 2024, Preta revelou a volta do câncer e uma nova rodada de quimioterapia, que não saiu como ela ou os médicos esperavam. "A gente tem que buscar alternativas em países diferentes, com tipos de estudos diferentes, ensaios diferentes ainda não publicados ou publicados, drogas que ainda não chegaram ao Brasil", pontuou, ao se consultar no Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSK), um hospital de referência no tratamento oncológico nos Estados Unidos.

Nos últimos anos, Preta usou sua voz para lutar pelo que acreditava, não só com suas músicas, mas pelas redes sociais, entrevistas, shows. A própria imagem, lembrava sempre ela, ia contra os "padrões": “uma mulher preta, gorda, bissexual”, disse à Quem, ao completar duas décadas de carreira, em 2022.

Carreira

A vontade de ser artista veio cedo, e o medo e as comparações com a família também. Comprou as paranoias alheias, montou uma empresa de marketing bem-sucedida, foi mãe nova de Francisco, da união com o ator Otávio Müller. Com o que falava ter sido um combo do retorno de Saturno, terapia, astrologia e os sonhos recorrentes com o irmão Pedro Gil, morto em um acidente de carro em 1990, aos 28 anos se lançou como cantora – o primeiro álbum, Prêt-à Porter, já trazia muitas das questões que a cantora desenvolveria ao longo da vida, mas a reação não foi a que ela esperava.

“Estava despreparada para uma sociedade que à época eu falava que era careta, mas, não, era uma sociedade conservadora, machista, misógina, racista, homofóbica”, contou ela que fez um ensaio nua com a fotógrafa Vania Toledo, que morreu em 2020, para divulgar o trabalho. “Hoje a gente tem nome para tudo aquilo. Mas, lá atrás, eu falava: meu Deus, mas por que estão criticando o meu corpo, mas por que ninguém ouviu meu álbum, só quer saber o que o meu pai achou de eu posar nua? Foi um choque”, lembrou.
Imagem: DivulgaçãoCapa de Pret-À-Porter (2003), de Preta Gil.(Imagem: Divulgação)Capa de Pret-À-Porter (2003), de Preta Gil.

Preta perseverou. Lançou outros três discos, Preta (2005), SouComoSou (2012) e Todas as Cores (2017); fez participações como ela mesma em novelas como Cheias de Charme (2012) e Pé na Cova (2013) e atuou como atriz em Caminhos do Coração (2007), Os Mutantes (2008) e Ó Pai Ó (2008). Criou um bloco que arrastava mais de um milhão de pessoas pelas ruas no Carnaval, animou casamentos, formaturas e eventos corporativos e fez shows de norte a sul e no exterior.

Em um deles, em 2016, viveu outra virada de chave. No palco do Teatro Castro Alves, em Salvador, na Bahia, levou uma vaia sonora ao dizer que era mulata. Em suas próprias palavras, foi se letrar e entender as nuances do racismo e escureceu sua vida e seus negócios – Preta tinha orgulho de ter mais de 50% da equipe da Mynd, a agência de marketing digital que fundou em 2017, composta por pretos.
Imagem: DivulgaçãoPreta Gil esteve à frente do Bloco da Preta por mais de 10 anos.(Imagem:Divulgação)Preta Gil esteve à frente do Bloco da Preta por mais de 10 anos.

Com tino para negócios, revolucionou, ao lado de seus sócios, a forma como a comunicação é feita nas redes sociais, se tornando ela mesma uma das maiores influenciadoras do Brasil. Preta, que chegou a participar do Medida Certa, quadro do Fantástico em que famosos tentavam perder peso, abandonou os filtros e recursos de edição e passou a postar fotos sem maquiagem e de biquíni. Deixou de pintar os cabelos na pandemia e assumiu os brancos. Já em tratamento contra o câncer, deu bronca em que dizia que estava “linda” mais magra, lembrado que perdia peso por estar doente.

O hate veio sempre na forma de comentários gordofóbicos e racistas – aos primeiros a cantora respondeu continuando com as publicações de seu corpo afirmando ainda mais seu direito de ser quem era nas redes; aos segundos recorreu à Justiça, denunciando à polícia quem a discriminava por sua cor.


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