"Que ele pague pela imprudência", diz sobrevivente de crime de trânsito no PI

22/10/2016 08h23


Fonte G1 PI

O jornalista Jader Damasceno, que sobreviveu ao crime de trânsito ocorrido no dia 26 de junho e matou os irmãos Bruno Queiroz e Junior Araújo, é uma das testemunhas de acusação no processo contra o motorista Moaci Moura da Silva, acusado de provocar a colisão. Jader diz que espera que o condutor vá a júri popular. A audiência de instrução acontece nesta sexta-feira (21).

“Quero muito que ele vá a júri popular. Não só ele, mas todas as pessoas que cometem o mesmo erro. Que ele pague pela imprudência, falta de respeito, falta de humanidade, falta de educação. Não é falta de conhecimento porque se ele tirou a carteira, no mínimo deve ter estudado, conhecer os direitos e deveres no trânsito”,
falou Jader.

Imagem: Beto Marques/G1Jader Damasceno, sobrevivente na colisão, é uma das testemunhas de acusação.(Imagem:Beto Marques/G1)Jader Damasceno, sobrevivente na colisão, é uma das testemunhas de acusação.

O jovem chegou a passar um mês internado por conta das graves lesões que sofreu. Hoje, Jader está numa cadeira de rodas e se recupera na casa dos pais, em Oeiras, sua cidade natal.

“Eu não escolhi estar aqui. Temos que entender que nossas escolhas implicam na vida de outras pessoas. Hoje eu pago por causa disso. Eu não escolhi passar o que estou passando. Não é a primeira vez que ele (Moaci) destruiu um carro, mas ele tirou vidas”,
desabafou.

O pai dos jovens Junior e do Bruno, que morreram no acidente, acompanhou os depoimentos. Visivelmente emocionado, ele deseja que o suspeito de cometer o crime vá a júri popular. "Nós queremos isso, mas nem aqui ele veio. Tivemos a informação de que nem na cidade ele está. Se não estiver, deveria ser punido de alguma forma", comentou o aposentado Francisco das Chagas Araújo.

Um policial militar também depôs. Ele declarou que chegou a deter Moacir, mas que ele não esboçava nenhuma reação e que só veio a se manifestar quando foi colocado na viatura. "Fomos a primeira equipe a chegar ao local. O condutor disse que era filho de pessoas influentes e pediu pra não ser preso", falou.

O PM também lembrou que tinha duas garrafas de bebida dentro do carro do rapaz. "Ele apresentava sintomas de embriaguez e cheiro de bebida, por isso foi solicitado os exames de alcoolemia. O comportamento dele era de uma pessoa assustada e tentava o tempo inteiro sair da viatura. Se ele saísse corria risco de vida, caso as pessoas que estavam no local descobrissem que ele estava envolvido com o acidente”, relatou o militar.

Outro policial que esteve no local falou que Moacir disse que estava bebendo com um delegado. Entretanto, essa pessoa é um agente de polícia civil que esteve, também, no local. Esse agente de polícia seria parente do motorista. "Ele dizia - ajeite ele, pois é uma pessoa boa", disse o militar durante depoimento.

Ainda entre as testemunhas de acusação, estão três rapazes que estavam num carro que vinha no sentido da avenida Jacob de Almendra para entrar na Miguel Rosa. Em depoimento, eles afirmaram que ao chegar próximo ao fusca, onde vinham os integrantes do coletivo Salve Rainha, a impressão era de que os três já estariam mortos. Eles chegaram a ligar para o socorro, pois era inviável retirar as vítimas das ferragens.

Uma professora foi uma das testemunhas de defesa e disse que esteve com Moaci antes do acidente em um restaurante e que por várias vezes o viu recusando bebida. "As poucas vezes que vi Moaci ele não me parecia uma pessoa alterada", falou a mulher. A professora disse que só soube do acidente no dia seguinte.

Audiência de instrução
A Justiça decide se Moaci Moura da Silva será julgado ou não por um júri popular. A audiência é presidida pela juíza Maria Zilnar Coutinho Leal.

Em entrevista dada ao G1, o promotor de justiça Ubiraci Rocha, responsável pela acusação, explicou o que será avalidado na audiência de instrução.

“Na prática o que vai se discutir é se o homicídio foi doloso ou culposo, porque se ele foi doloso, aí a juíza já decide se ele será submetido a julgamento pelo tribunal do júri. Caso fique caracterizado que não foi doloso, ele sai da competência do júri”,
contou.

A colisão que matou os dois rapazes ocorreu na noite do dia 26 de junho. Conforme laudos periciais, Moaci Moura dirigia em alta velocidade (aproximadamente 100km/h), estava alcoolizado e invadiu o sinal vermelho quando colidiu contra o carro em que estavam as vítimas. Como resultado do acidente, Bruno Queiroz morreu na hora, seu irmão Júnior Araújo teve morte cerebral três dias depois e apenas o jornalista Jader Damasceno sobreviveu. Todas as vítimas são ligadas ao movimento cultural Salve Rainha.

O promotor acredita que a tese de homicídio doloso será acolhida por conta das provas e testemunhas. “Eu não tenho nenhuma dúvida que ao termino da audiência, pelo que consta até agora nos autos e o que foi colhido inclusive por ocasião do inquérito policial, o Ministério Público (MP) conseguirá demonstrar o que houve foi um homicídio doloso”, finalizou.

A defesa de Moaci Moura foi procurada para comentar o caso, mas ainda não se pronunciou.

Tópicos: carro, acidente, testemunhas