Por sonho olímpico, atleta viaja 300km para treinar: "Recompensa um dia"

24/04/2015 10h57


Fonte G1 PI

Imagem: Josiel MartinsClique para ampliarPela primeira vez, Andressa compete com carabina olímpica.(Imagem:Josiel Martins)Pela primeira vez, Andressa compete com carabina olímpica.

Ao colocar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos, os Jogos Rio 2016 aparecem nos sonhos de Andressa Tamires. Participar de uma Olimpíada ronda a imaginação da atleta de 16 anos, praticante do tiro esportivo. A construção deste objetivo tem uma mãozinha de ouro, o pai Robson Sousa. Cabeleireiro, dono de um salão na cidade de Oeiras, interior do Piauí, ele improvisou no quintal de casa um campo de treino para a filha e se transformou em seu treinador. A luta não para por aí. Em véspera de competição, a dupla viaja 310km até a capital Teresina para os treinos em clube de tiro. Às vezes de ônibus, outras de carona em carro de amigos. É lá que Andressa tem a oportunidade - quase única na rotina - de treinar em um espaço adequado e receber do técnico as últimas instruções, recanto para conquistar medalhas – é o que a dupla espera acontecer no Campeonato Norte-Nordeste, em Fortaleza, nesse fim de semana.

Foi através de uma pesquisa na internet que Robson conheceu o tiro esportivo. Já gostava e a admiração cresceu, passando para a filha. Ao ver o potencial de Andressa, Robson resolveu investir. Os treinos em casa, no espaço improvisado de 10 metros, começam quando o salão fecha e a filha chega da escola, já à noite, das 20h até meia-noite. Esforço que inspira sonhos.

Imagem: Josiel MartinsDupla checa as bagagens antes de viagem para campeonato. À espera de viagem, malas ficam ali mesmo no salão de tiro.(Imagem: Josiel Martins)Dupla checa as bagagens antes de viagem para campeonato. À espera de viagem, malas ficam ali mesmo no salão de tiro.

- Sempre a levava para as competições. Um dia ela testou, foi bem e disse que gostaria de competir. Aí, pouco tempo depois, a Andressa passou a ganhar de todo mundo. Com apenas dois anos, ela foi vice-campeã brasileira da categoria dela, a júnior feminina, e trouxe medalhas de torneios regionais – recorda.

Além de treinador, Robson corre atrás de patrocínios. O pouco mais do salário mínimo que consegue no salão é insuficiente para estruturar os treinos de Andressa. Por isso, faz projetos para as empresas em busca de dinheiro para custear as viagens e equipamentos da filha. Com o esforço, conseguiu recentemente ganhar uma carabina olímpica de ar. Pela primeira vez, Andressa vai competir com um material desse porte.

Imagem: Josiel MartinsClique para ampliarAndressa ao lado do pai Robson.(Imagem: Josiel Martins)Andressa ao lado do pai Robson.

- É um equipamento de R$ 15 mil que não daria para comprar. É um armamento mais preciso nos tiros e estável. É emocionante ver esse esforço e vontade dela – narra Robson.

A um dia da viagem até Fortaleza, Andressa treina cinco horas no centro de tiro esportivo. Isso depois de passar outras quatro dentro de um carro viajando. Depois, vai encarar a estrada novamente até a capital cearense. Lá vai ficar três dias no Norte-Nordeste. Sacrífico que vale a pena. E se as medalhas vierem, melhor ainda.

- É muito gratificante. Espero chegar entrar um dia na seleção brasileira de tiro e participar de uma olimpíada. A rotina é cansativa, mas é a luta de um atleta. No final, em algum dia, vem a recompensa. Vou lá para fazer a minha parte, se ganhar ou perder volto com a mesma alegria – define a atleta.

Tópicos: atleta, tiro, medalhas